Já há desmobilizados

Já há desmobilizados – O ambiente está a ficar cada vez mais inquinado no seio de alguns desmobilizados da RENAMO, havendo já quem reclame a “devolução” da sua arma para se defender dos constantes assédios políticos e perseguições, alegadamente protagonizados por membros ou agentes a soldo do partido Frelimo.

A localidade de Nhabhuto, posto administrativo de Serra Chôa, no distrito de Báruè, na província central moçambicana de Manica, serve de amostra para esse quadro.

Foi aqui onde em meados de Abril 16 palhotas de elementos da RENAMO abrangidos pelo processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) foram incendiadas por supostos seguidores de ordens do partido governamental.

O incidente tem sido usado por responsáveis da RENAMO para evidenciar aquilo que chamam de “hipocrisia e cinismo” dos dirigentes do partido Frelimo, por supostamente falarem de paz e promoverem violência no quotidiano.

Mulheres e crianças também afectadas pela acção dos vandalizadores

Esse foi, aliás, um dos desabafos feitos pelo presidente da RENAMO, Ossufo Momade, esta terça-feira, em Maputo, quando se assinalava o quarto aniversário da morte do seu antecessor, Afonso Dhlakama. “Estão a nos empurrar para a guerra”, disse o líder da oposição moçambicana.

Victor Ficha, um desmobilizado da RENAMO disse ao Redactor que por se recusar aderir ao partido Frelimo e/ou participar em reuniões deste partido sofre perseguições e ameaças, actos extensíveis à sua família.

“Não temos vivido em paz aqui em Nhabhuto, esses polícias comunitários nos fazem sofrer, toda hora, circulam aqui a nos ameaçar, a dizer que temos que participar nas reuniões do partido Frelimo. Destruíram a minha casa, cozinha e até casa de banho e o meu celeiro. Felizmente escapamos a tempo e assistimos tudo à distância”, relatou Ficha.

De 42 anos de idade, Panganai Charles, que como guerrilheiro combateu no distrito de Gorongosa, em Sofala e Báruè (Manica), afirma estar a viver momentos de terror da sua vida. “Assisti a minha casa, plantações e celeiro serem destruídos por desconhecidos”.

Com sete filhos e duas esposas, Charles está a viver ao relento há sensivelmente duas semanas, entregue à fome e ao frio neste Inverno muito rigoroso, particularmente na zona de Serra Chôa e em Manica em geral.

“Não me resta nada aqui, destruíram a minha casa e a do meu filho mais velho, colocaram fogo na minha machamba [campo agrícola] e levaram meus animais. Não sei como vou viver com a minha família”, disse Panganai Charles.

O delegado do partido RENAMO na localidade de Nhabhuto, Obete Bizeque, confirma o ambiente politicamente tenso na zona, referindo que quem não alinha com o partido Frelimo é tratado pior que um estrangeiro na sua própria terra.

“Quando decidem, vem nos roubar dinheiro, eu já fui roubado 60 mil meticais, que consegui na venda de meus produtos da machamba. Estamos todos os dias a falar de paz, paz, que paz essa que estamos a viver parece que não é nosso país? ”, questiona Obete Bizeque.

Bizeque acrescenta que estas acções, alegadamente perpetradas pelos membros do partido Frelimo, são feitas sob olhar impávido dos membros da PRM do comando distrital de Báruè, estes que nada fazem para resolver a situação.

Geraldo Carvalho, destacado quadro da RENAMO, foi amparar os prejudicados

“Estou a pedir que me devolvam a minha arma, quero me defender sozinho, estão a ver como a minha casa esta agora, tudo destruído, e a polícia não esta a fazer nada, quero resolver como antes resolvíamos, porque até o meu filho conseguiram lhe manipular para estar contra mim”, finaliza Bizeque.

O administrador do distrito de Báruè, David Franque, admite que tem havido desordem na sua área da sua jurisdição, referindo, no entanto, que “trabalhos estão sendo feitos com vista a repor a tranquilidade e paz no seio das famílias que sofreram vandalização das suas casas”.

“Estamos no tempo da paz, é para estarmos em harmonia social e não para haver contradição em como cada um pensa, não podemos deixar as famílias daquela maneira como está, e eu como administrador tenho que chegar lá no terreno para perceber bem a situação para tomar decisões”, disse David Franque.

KELLY MWENDA, correspondente em Manica

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