Jornalistas sitiados

Jornalistas – Não me lembro da data nem do ano em que recebemos na Redacção Jonathan Moyo, então famoso ministro de Informação do governo do presidente Robert Mugabe.

Moyo era considerado maior inimigo de jornalistas não bajuladores do regime de Robert Mugabe.

O motivo da sua visita era estabelecer parceria ou intercâmbio que incluía troca de notícias entre a instituição fonte de meu ganha-pão e a corporação de radiodifusão do Zimbabwe.

Durante a visita, travei breve conversa com um dos jornalistas que integrava a delegação do ministro visitante, questionando sobre o tipo de parceria que seria estabelecida com a ZBC, então considerada por muitos zimbabueanos como corporação estatal da Media excessivamente parcial a favor do partido no poder.

Não altura, não sei agora, Zimbabwe não tinha canal privado de televisão. O meu colega jornalista zimbabueano disse-me que bom ou mau jornalismo depende do ângulo em que o poder ou alguém analisa notícias produzidas e veiculadas por determinado jornalista ou órgão de comunicação social.

Ele prosseguiu “hoje você pode ser considerado bom jornalista, mas amanhã pode ser pior repórter, portanto, my brother – meu irmão – essa coisa de bom ou mau jornalismo é relativo e depende do “gosto” de cada dirigente político, económico ou religioso”.

Nas Filipinas, a jornalista Maria Ressa, foi recentemente condenada juntamente com o seu antigo colega e pesquisador Reynaldo Santos Jr por causa de um artigo relacionado com tráfico de droga, envolvendo um empresário. 

Maria Ressa, antiga correspondente da cadeia de televisão CNN americana, ganhou prémios, mas agora enfrenta seis meses ou seis anos na prisão e deve pagar oito mil dólares norte-americanos pelos alegados danos provocados. Maria Ressa é fundadora do jornal electrónico Rappler, no qual o referido artigo foi publicado.

Muita gente acredita que a condenação de Maria Ressa foi politicamente encomendada pelo governo do presidente Rodrigo Duterte, porque o jornal tem sido crítico da estratégia do líder Filipino de lidar com traficantes de droga. Muitos suspeitos traficantes de drogas foram brutalmente assassinados sem julgamento. Os defensores de Duterte refutam as alegações.

Entretanto, cerca de duas ou três semanas depois foi encerrado o maior canal de televisão privada que empregava 11 mil pessoas.

Diz-se que o presidente Duterte criticara o canal CBS, dizendo que não apoia suas políticas e não fez cobertura da sua campanha eleitoral em 2016. O parlamento votou contra a renovação da licença do canal televisivo privado.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump continua a fazer ameaças a jornalistas que considera promotores de fake news -notícias falsas. O Departamento de Estado anunciou a limitação de jornalistas que trabalham para jornais ou canais chineses nos Estados Unidos da América, alegando que servirem interesses estrangeiros. A China retaliou expulsando mais de 10 jornalistas americanos. Coitado de jornalistas apanhados no fogo cruzado das duas potências mundiais.  

Na África do Sul, a acreditação de jornalistas estrangeiros que no passado era considerado flexível tornou-se muito burocratizado.

Em Moçambique, reina black out sobre notícias da guerra em Cabo Delgado imposto pelas autoridades.

Jornalistas que se aventuram procurando informações são molestados pelas forças de defesa e segurança no meio do silêncio profundo do Sindicado Nacional de Jornalistas (SNJ).

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 15 de Julho de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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