Lideranças do ANC e AD

Lideranças do ANC e AD  – Antes de 1994, a política sul-africana era marcada pelo forte desejo dos negros de participarem nas eleições em pé de igualdade com os seus conterrâneos de raça branca.

Hoje, ironicamente, o maior desafio é o número maior de negros que não quer votar. Para a maioria, a democracia perdeu o “gosto” que tinha nos tempos de Nelson Mandela.

Pesquisas mostram que a juventude está desiludida com a política e muitos que apoiavam o Congresso Nacional Africano estão desapontados.

As eleições municipais realizadas esta segunda-feira são teste crucial das lideranças do Congresso Nacional Africano (ANC) e da Aliança Democrática (DA), Cyril Ramaphosa e John Steenhuisen, respectivamente, depois das eleições gerais de 2019 e da violência de Julho último.

Ramaphosa enfrenta uma corrente pró-Zuma que em Julho promoveu as manifestações mais violentas da África do Sul democrática em alegado protesto contra a prisão de Jacob Zuma e da suspensão do Secretário-geral do ANC, Ace Magashule.

Ramaphosa remodelou o seu Governo no meio da contestação a alguns ministros com destaque para os da Defesa, Polícia e Saúde. A Polícia e a Defesa não conseguiram garantir a segurança aos sul-africanos durante a manifestação pró-Zuma.

Mais de 300 pessoas perderam a vida e centenas de negócios e propriedades públicos foram pilhados.

O então Ministro da Saúde, Zweli Mkhize, foi considerado conivente num esquema de corrupção com dinheiro de mitigação do impacto da pandemia de COVID-19.

O ANC foi às eleições muito fragilizado, mas determinado a manter o seu domínio na maioria dos 278 municípios.

A classe média negra mostra sinais de saturação com escândalos sistemáticos de corrupção envolvendo personalidade do movimento político mais antigo de África.

O ANC admitiu pela primeira vez estar preparado para entrar em coligação com outros partidos em alguns municípios onde goza de menor simpatia do eleitorado. O povo está cansado de promessas.

O disco da narrativa de libertação está furado particularmente nos ouvidos da geração born free ou nascida livre do apartheid.

O regime do apartheid caiu há 27 anos.

Os jovens nascidos em 1994 desconhecem as restrições de segregação racial que marcaram a vida dos seus pais e avos durante o regime minoritário racista do apartheid.

Eles conhecem somente o governo do ANC que não consegue dar-lhes emprego, habitação prometida e melhores condições de vida.

A retórica de libertação está a perder mercado entre a juventude.

A Aliança Democrática (DA) formada por membros remanescentes do extinto Partido Nacional, arquecto do apartheid, tenta recuperar o orgulho perdido dos brancos de descendência holandesa – boers – e alguns de origem britânica.

A ala conservadora branca revoltada com a derrota nas eleições gerais de 2019 juntou-se e conseguiu afastar o jovem negro da liderança do partido, Mmusi Maimane.

O racismo mostra sinais firmes de ressurgimento na sociedade sul-africana. Os seus promotores acusam as políticas de descriminação positiva do ANC como sendo iguais às do apartheid.

A África do Sul tornou-se barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento, sendo que as eleições municipais desta segunda-feira são termómetro crucial para as lideranças do ANC e da DA. (Lideranças do ANC e AD)

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi intitulado “Lideranças do ANC e AD ”, foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 03 de Novembro de 2021, na rubrica de opinião denominado O RANCOR DO POBRE

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