Manifestações contra Ossufo

Manifestações – Multiplicam-se, em diversos pontos de Moçambique, contestando a liderança de Ossufo Momade na RENAMO, evidenciando a tese defendida por alguns analistas, segundo a qual actualmente o “partido é mais forte que o seu presidente”.

O primeiro sinal surgiu em 2019, na cidade da Beira, capital da província central de Sofala, terra natal do falecido presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, e houve quem tentou associar as manifestações de contestação a questões tribais.

A segunda manifestação política pública de maior relevo contra a administração de Ossufo Momade na direcção da RENAMO foi registada no início deste Fevereiro (dia 04) em Nampula, terra natal do actual presidente desta organização.

A mais recente acção pública (manifestação) conhecida de membros da RENAMO contra a direcção de Ossufo Momade na “perdiz” foi assinalada esta semana na Zambézia, o segundo maior círculo eleitoral de Moçambique.

A estes três focos de domínio público de contestação política ao Ossufo Momade, acresce-se a já mais que conhecida oposição armada ao actual presidente da RENAMO, protagonizada pela Junta Militar liderada por Mariano Nhongo.

Os acontecimentos pós-Dhlakama na “perdiz” vêm consolidar a ideia de que apesar de ser formalmente uma organização política, “a RENAMO funciona com mentalidade militar”.

“A RENAMO é um partido civil, mas ainda sofre de uma psicologia totalmente militar, mesmo militarista…” considerou, há 26 anos, o investigador francês da Universidade de Ciências Políticas de Bordéus, Michel Cahen, ideia reiterada em público ainda este Fevereiro.

A revolta contra Ossufo Momade em Sofala teve como pretexto o afastamento do então delegado político na cidade da Beira, Sandura Ambrósio (actualmente detido por alegadamente estar a financiar a Junta Militar).

Em Nampula, os membros da RENAMO se aproveitaram da aparição na capital provincial do maior círculo eleitoral de Moçambique do Secretário-Geral do partido, André Magibire, para questionar, de forma desabrida, a estratégia de Ossufo Momade face aos actuais desenvolvimentos políticos pós eleições de Outubro de 2019.

Basicamente, os membros da RENAMO presentes no comício orientado por Magibire queriam saber o que a Direcção do partido vai fazer face às alegadas irregularidades assistidas e arroladas nos relatórios das mais variadas missões de observação das eleições de Outubro de 2019.

Magibiri acabou sendo vaiado e mandado calar por alguns dos presentes quando, ao cabo de aproximadamente 30 minutos a falar, em nenhum momento se referiu taxativamente à estratégia a tomar, enfurecendo alguns dos mais exaltados militantes e simpatizantes presentes.

“Estamos a trabalhar para a reposição da verdade eleitoral. Vocês viram que as últimas eleições foram caracterizadas por uma autêntica vergonha encabeçada pelo partido Frelimo. A Renamo ganhou eleições”, foi depois de Magibiri pronunciar estas palavras que subiram de tom as vozes contestatárias durante o comício realizado bairro de Namicopo, no terceiro maior centro urbano de Moçambique (Nampula).

Esta semana, um grupo de membros e simpatizantes da RENAMO na Zambézia aproveitou as mexidas ordenadas por Ossufo Momade na esfera partidária a nível local para contestar actual gestão do partido.

Os membros e simpatizantes da RENAMO não estão a acolher favoravelmente o afastamento de Abdala Ossufo como delegado provincial, para ser substituído por Elisa Maria Isabel.

Um dos membros da RENAMO na Zambézia aproveitou esta situação para, nas entrelinhas da sua intervenção, deixar a entender que terá havido uma cabala durante as eleições de Outubro de 2019, aparentemente comparticipada pela actual liderança do partido, para prejudicar a próprio “perdiz”.

“(…) Nós não queremos um presidente que brinca connosco, queremos a verdadeira democracia. Queremos um presidente que discuta o bem-estar do povo moçambicano, não um presidente que receba gorjetas. Se ele não está a conseguir, terá de abandonar a [Direcção] da RENAMO. Acho que Ossufo Momade devia fazer uma política que convença a população da Zambézia”, sugeriu um outro membro do partido, que pediu anonimato em declarações à DW.

Sem sucesso, tentamos ligar para José Manteigas, porta-voz da RENAMO, para ouvir o comentário oficial do partido em torno desta onda de manifestações no seio da maior formação política de oposição em Moçambique.

(Correio da manhã de Moçambique)

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 14 de Fevereiro de 2020

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