Minha cara Joana
Espero que estejas de saúde, bem como toda a tua família. Do meu lado, estou a recuperar de alguns problemas e espero brevemente estar bem.
Mas não é da minha saúde que te quero falar, mas sim da saúde do nosso país.
O escritor britânico Georges Orwell, na sua obra 1984, descreve-nos uma sociedade totalitária em que o Estado tem completo controlo sobre a vida dos seus cidadãos, espiando-os na sua vida pública e privada.
Em todo o lado estavam montadas câmaras que transmitiam a informação rigorosamente filtrada pelos órgãos do poder mas, principalmente, transmitiam a esses órgãos tudo o que se passava à sua frente. Em nenhum lugar os cidadãos tinham privacidade para fazer fosse o que fosse sem que pudessem estar a ser observados pelos serviços de segurança.
Vem isto a propósito das centenas de torres de vigilância que estão a ser montadas nas cidades de Maputo e Matola com câmaras de vídeo para vigiar tudo o que se passa ao seu alcance.
Este e outros dispositivos destinados ao controlo das comunicações via telefone e outras foram montados para ser controlados a partir da Casa Militar da Presidência da República.
Trata-se de um complexo sistema que permite à Presidência um controlo sobre a vida dos cidadãos que, até onde tenho conhecimento, nenhuma legislação autorizou.
No momento em que a Renamo exige a sua presença nos quadros do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) como forma de controlar o uso abusivo destes serviços, a montagem de um sistema paralelo de espionagem sobre os cidadãos a partir da Casa Militar da Presidência da República parece uma forma de ultrapassar esse controlo por parte da oposição, o que é claramente uma intromissão na nossa vida privada.
O facto de tudo isto, para além do mais, se traduzir num negócio que meteu nos bolsos do filho do anterior Presidente da Républica umas dezenas de milhões de dólares norte-americanos é apenas a cereja amarga no cimo de um bolo de péssimo gosto.
Será possível ainda travar mais esta golpada?
Um beijo para ti do
Autor: MACHADO DA GRAÇA