Moçambique hostil ao jornalista

Moçambique tornou-se hoje um país com um ambiente hostil ao jornalista, cenário que não inspira os jovens moçambicanos a “seguirem seus sonhos na carreira jornalística, muito menos as mulheres, por temerem represálias e ameaças próprias ligadas ao seu género”, segundo a avaliação da embaixadora do Reino dos Países Baixos (Holanda) em Maputo.

“Nos últimos anos, Moçambique tem apresentando um ambiente cada vez mais hostil aos jornalistas onde os mesmos sofrem ameaças verbais e físicas de uma forma regular”, sublinhou a diplomata, secundada por alguns dignitários nacionais ligados ao sector da Justiça eda media.

Henny de Vries expressou este seu ponto de vista esta terça-feira em Maputo durante uma mesa redonda híbrida promovida pelo capítulo moçambicano do Media Institute of Southern Africa (MISA), sob o lema Dia Mundial para o fim da impunidade dos crimes contra jornalistas.

“Consideramos que os jornalistas e os profissionais de media devem ter o apoio e carinho por parte de todos nós como sociedade, governo e comunidade internacional”, sugeriu a diplomata falando ao lado do provedor da Justiça de Moçambique, Isaac Chande.

Para esta diplomata, a aceitação da impunidade dos crimes contra jornalistas não traz nenhum benefício à sociedade nem o seu governo. “Por isso aproveito para apelar a todos aqui presentes no sentido de unirmos esforço para proteger o jornalista!”

Num esforço para contribuir visando inverter esta tendência, Henny de Vries disse na mesma ocasião que o seu país iniciou, em Outubro, um programa de apoio ao Free Press Unlimited (Imprensa livre), que irá trabalhar com MISA para promover um ambiente legal e político com maior respeito pela a liberdade de imprensa em Moçambique.

Os comentários de Henny de Vries foram aplaudidos e secundados por muitos dos presentes intervenientes no evento, com destaque para o provedor da Justiça, Isac Chande, que se levantou e referiu que o jornalista é “um actor preponderante e indispensável para a realização do direito à informação, merecendo, por isso, o respeito pela sua integridade física e moral”.

“Os que perseguem, raptam e matam os jornalistas, não estão apenas contra esta classe de profissionais, fazem-no, conscientes da enorme contribuição que estes profissionais dão para a democratização das sociedades”, prosseguiu Chande.

“Hoje, celebramos, não só, a luta contra a impunidade dos crimes cometidos contra os jornalistas, mas, sobretudo, o direito à uma sociedade informada, de ampla liberdade e pluralidade de expressão. É, por isso, que temos a obrigação de nos levantarmos contra todas as formas de atentado contra os jornalistas no desempenho da sua missão”, sublinhou o responsável.

“Devemos manifestar a nossa indignação junto de quem de direito, sempre que, algum jornalista, aqui no nosso país ou noutros espaços geográficos, for vítima de intolerância dos inimigos da liberdade de expressão, dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, os quais, não se efectivarão sem o trabalho dos jornalistas”, exortou Isaac Chande.

O assessor legal principal, jurista e jornalista moçambicano Ericino de Salema, ele próprio que no passado dia 27 de Março de 2018 foi raptado na zona nobre da capital de Moçambique e brutalmente agredido fisicamente e abandonado no mato, nos arredores da cidade, por “desconhecidos”, relembrou a sua própria odisseia.

O mesmo fez o editor executivo do semanário Canal de Moçambique e dia diário digital Canal Moz, Matias Guente, que também já foi alvo de tentativa de rapto e depois agredido no Centro da cidade de Maputo, para além de ter visto a sede das suas publicações incendiadas, igualmente por “desconhecidos”, num caso que, disse, foi “arrumado” pelas autoridades que deviam investigar estas ocorrências, “por falta de elementos”.

Moçambique tem vivido momentos muito difíceis nos últimos anos, situação que se torna mais fértil ainda para a perigosidade da actividade jornalística.

O reinício dos conflitos na zona Centro, os ataques terroristas na província de Cabo Delgado e os ciclones nestas duas áreas mencionadas tem fustigado profundamente o povo deste país, locais para onde são destacados jornalistas.

Para além da instabilidade política, o país ainda está a passar por uma crise financeira animada pelas chamadas dívidas ocultas e com a chegada da pandemia do Covid-19 a situação tem piorado cada vez mais.

Todo este contexto mencionado cria muita tensão na sociedade, provedores públicos e ainda mais nos profissionais de média que estão sempre na busca de informação mesmo em condições extremas.

Redactor

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 03 de Novembro de 2021.

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