Moral é distinta da Religião

Moral – Em nome da filosofia marxista-leninista, o ensino da Moral e Religião havia sido proibido em todas as escolas do país, em seu lugar foi imposto o ensino do Marxismo-Leninismo. Foi daí que começou a decadência moral. Até poderíamos concordar que a Religião, seja ela qual for, não fosse leccionada nas escolas. Em nome da liberdade religiosa, concordamos com a medida, mas até se interditar o ensino da Moral é bem diferente. Para os comunistas, era tudo igual. Não conseguiam destrinçar a Religião da Moral. O povo sabe separar a Religião da Moral. Devido à confusão de conceitos básicos, estamos a resvalar para uma sociedade que não distingue o mal do bem, o feio do belo. Os problemas da moral começam de cima, com as dívidas ocultas, continuam por aí abaixo. 

A crise de identidade é mais aguda ainda para as gerações mais jovens. É muito fácil verificar isso no quotidiano da nossa gente sem referências de moral. Nos machimbombos e chapa-100 notamos, muitas vezes, que os mais novos, de modo geral, não cedem seus lugares enquanto pessoas mais velhas e, de modo particular, senhoras grávidas viajam em pé. Nós aprendemos que os mais novos devem ceder seus lugares às senhoras grávidas e aos idosos. Parece que isso seja coisa de gente antiga que hoje já não funciona mais, pensam os jovens de hoje. O respeito pelos mais velhos, idosos e pelas senhoras grávidas não é nada coisa de hoje.  A moral e o respeito têm a idade da própria humanidade. Falta tempo suficiente aos pais, tios e avôs para ensinarem aos seus filhos coisas boas, como uma educação, respeito e amor ao próximo, numa altura em que a educação está abandonada à sua sorte, está entregue a ninguém.

As autoridades administrativas estão na vanguarda de tais práticas ao invés de apostarem na educação e fiscalização. A maior parte dos polícias quando se fazem à rua é apenas para fazer a ‘sua receita’ e não para ajudar a regular o tráfego e a educar os automobilistas, como faz a polícia de países civilizados. O problema de acidentes reside nos condutores e reguladores de trânsito. O estado mecânico da viatura e o da via pública jogam um papel crucial na prevenção dos acidentes de viação ou podem ser até um factor gerador de acidentes e nada mais do que isso. Os espíritos dos antepassados não entram na equação de prevenção dos acidentes, pois, esses não resolvem os problemas que nós andamos a provocar. 

O governo tem que parar de jogar à prevenção e começar a agir de modo a parar com o derramamento de sangue nas nossas estradas. Para prevenir acidentes de viação não passa por convidar bandjas acompanhadas de comeretes e beberetes à fartura, aparentemente para apelar aos espíritos dos antepassados desavindos com os vivos, onde uma pequena parte do manjar se entorna ao chão e a grande porção é disputada por esfomeados, mirones e outros. 

Podemos contribuir na desaceleração da degradação do meio ambiente como a desertificação e empobrecimento dos solos, a falta de chuvas, bastando controlar e reduzir o abate das florestas, acção levada a cabo por empresas chinesas em conluio com dirigentes do partido no poder e a produção de gases de estufa que provocam o aumento da temperatura no planeta. Tudo pode ser evitado sem recorrer a curandeiros. A ciência e a tecnologia podem explicar aquilo que o governo procura nos curandeiros.

Só falta vermos o governo em festanças com curandeiros e régulos a apelarem aos espíritos dos antepassados a fim de, também, afugentarem o HIV-SIDA, COVID-19, ciclones e malária que ceifa muitas vidas, principalmente, das pessoas mais carenciadas. Para não termos que deixar de fora os grandes problemas do povo, sugerimos às autoridades administrativas uma oração entre curandeiros, régulos contra a fome poderia ser uma grande ajuda, como uma daquelas missas que costumam promover em Maluana, província de Maputo, na EN1, onde, com frequência, acontecem graves acidentes de viação. Alguma coisa está a falhar porque os acidentes continuam a acontecer e, até ao presente momento, nada de concreto foi feito para além de uma missa tradicional que juntou as autoridades administrativas, régulos e curandeiros. 

Passamos, recentemente na véspera do fim de ano de 2021, pela zona de Maluana e nada de novo vimos. O governo ainda não tomou nenhuma medida no sentido de conter os acidentes de viação naquele troço e está como se nada de anormal vem acontecendo. Daqui concluímos, como sempre, de que o governo não é uma entidade séria na qual os cidadãos podem confiar. Naquele troço e em outros tantos, muitos acidentes vão ainda acontecer e muitas vidas de cidadãos se vão perder por negligência das nossas autoridades que juraram servir o povo, mas na prática, nada têm feito de jeito. 

O governo não está para resolver os problemas das pessoas e do país. Existe, isso sim, para cobrar impostos, espalhar cabritos na via pública que corroem os bolsos dos automobilistas e não para proteger as pessoas, como seria a sua obrigação constitucional. Estamos chegando à conclusão de que pouco ou nada se pode esperar do governo. Algo ressalta à vista de todos os utentes da EN1: é a multiplicação de portagens como cogumelos em tempo de chuvas que visam, apenas, amealhar grandes somas de dinheiro nos bolsos dos que já andam ricos de dinheiro fácil. Vamos pagando nas portagens enquanto ao mesmo tempo que as nossas viaturas vão ficando sucatas devido às péssimas condições das vias. Em países com governos sérios e dedicados à causa do povo, a colecta de impostos serve para servir o povo. Entre nós, a filosofia de servir o público é outra. Aqui, o poder é para se servir a si e aos seus comparsas. 

Para aferirmos o grau da gravidade da actuação da Polícia de Trânsito e da Polícia Municipal, fizemos uma pequena investigação, no Terminal da Junta, na Cidade de Maputo, perguntando a motoristas e cobradores sobre a questão de extorsão de dinheiros ao longo do trajecto das suas viagens pelas províncias. O que nos disseram constitui um verdadeiro crime de extorsão tolerável em países com altos índices de criminalidade. Disseram-nos que é uma excepção passar por um posto de controle policial sem deixar entre 100 a 200 meticais, tanto na ida assim como na viagem de volta.

Os operadores da linha Maputo-Tete ou vice-versa disseram que chegam a desembolsar, por cada viagem, cerca de seis mil meticais só para ‘massagear’ a polícia e nós, na nossa última viagem, testemunhamos o recebimento de dinheiros pela Polícia de Trânsito e quisemos saber a razão que pesa para terem que dar dinheiro a polícia, responderam que sem ‘refresco’ nos complicam a vida e podemos não chegar ao destino a tempo, desabafaram. Por onde andam as autoridades? – Ninguém sabe. Sentimos que há um grande vazio de liderança do nosso país. Há um enorme vazio de autoridade, por isso, o povo está a sofrer muito. Sofre porque o governo está ausente na vida das pessoas. 

Não se pode assistir a Polícia de Trânsito e Polícia Municipal a encherem o bandulho de dinheiro roubado. Os Ministros do Interior e dos Transportes e Comunicações e o Comandante-Geral da Polícia têm que fazer alguma coisa para acabar com a roubalheira nas estradas. Os polícias têm salários pagos pelo Estado. 

A extorsão deve terminar, a menos que os Ministros do Interior e dos Transportes e Comunicações e o Comandante-Geral da Polícia estejam a deixar a polícia (Polícia de Trânsito, Polícia Municipal e agora os azulinhos) a roubarem dinheiro das pessoas na rua e nas esquinas das cidades.

EDWIN HOUNNOU

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