Morreu Mário Soares
Mário Soares esteve em todas as frentes, em todas as batalhas, em quase todas as vitórias, incluindo em Moçambique, e em apenas algumas derrotas da política nacional dos últimos 70 anos.
Personagem incontornável do regime democrático, o seu desaparecimento físico na tarde deste sábado, em Lisboa, deixa um vazio que ninguém preencherá.
A história do Portugal contemporâneo desde os anos 50 do século passado não seria a mesma sem ele: não estava em Portugal naquela quinta-feira – o “dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio” (Sophia) – em cuja madrugada soaram inauditos os versos que contavam as garras de uma vila morena e os canhões saíram à rua para resgatarem o nobre povo e a Nação valente da sua pequenez miserável e sórdida, orgulhosamente deixava só nos confins de uma Europa que era outra coisa muito diferente. Mas esse dia, ou essa madrugada, não teria sido a mesma madrugada se Mário Soares não estivesse na linha da frente – uma linha que para tantos outros que não se podem esquecer foi de fogo – a linha da recusa da miséria como destino, da mediocridade como média e do escuro como luz.
Mário Soares, que dizem ser o “pai da democracia portuguesa” – mas é uma paternidade necessariamente partilhada –, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1924, o mesmo ano em que Lenine, já morto para a história, deixou este mundo e o outro.
Não tinha por que ser um revolucionário: a família, devidamente burguesa, haveria de lhe dar o amparo até ao fim dos seus dias se necessário fosse, e o garoto poderia desfrutar do mundo inteiro sem preocupações em demasia, se fosse essa a sua vontade.
Mário Soares é filho de João Lopes Soares, ex-sacerdote e fundador do Colégio Moderno.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1951, e em Direito na Faculdade de Direito da mesma universidade, em 1957, o jovem Soares cedo deu consigo a defender os presos que o cinzento regime de Oliveira Salazar – acantonado nos braços de Manuel Gonçalves Cerejeira – entendia serem de lesa pátria, ou perto disso.
Por outras palavras: comunistas, anarquistas e toda essa corja, para se usar um substantivo do regime. Resultado: o jovem Soares entendeu que era esse o seu lado, o dos comunistas, e seguiu em frente.
Mário Joases foi um dos principais obreiros dos Acordos de Lusaka, que conduziram Moçambique à independência nacional em 25 de Junho de 1975.
Redacção e JE