Mwasiafumbi

Mwasiafumbi – O que actualmente é manchete para muitos meios de comunicação social – escolha do substituto de Mariano Nhongo Chissinga na liderança da Junta Militar da RENAMO, referida publicamente no sábado passado pelo director das Operações das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), o brigadeiro Chongo Vidigal -, foi nossa notícia em Novembro 2021.

Foi justamente no passado dia 02 de Novembro de 2021 que o Redactor publicou, na sua terceira página, ter havido uma reunião de altos comandos da Junta Militar da RENAMO, ala castrense que se opõe à actual liderança política do principal partido da oposição em Moçambique, tendo como ponto único de agenda a escolha do sucessor de Mariano Nhongo, morto pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) no passado dia 11 de Outubro de 2021.

Nessa altura o Redactor identificou o nome do homem sugerido como sendo Augusto Faindane Phyri, também conhecido por “Mwasiafumbi”, que, segundo consta, também usa o nome de Isaías Francisco.

Na altura soubemos e publicamos que a escolha de Mwasiafumbi para substituir Nhongo teve lugar na província central moçambicana de Sofala, concretamente na região da Gorongosa, zona de conforto dos guerrilheiros da RENAMO e antiga base da ala armada desta organização.

A alcunha de guerra de “Mwasiafumbi” – em português “aquele que deixa poeira” – foi lhe dada pelo presidente histórico e já falecido da RENAMO, Afonso Dhlakama (1953-2018), após uma violenta batalha em Manica, planalto central de Moçambique, nos anos 1980, em plena guerra civil, da qual as forças da “resistência” saíram vitoriosas, com Augusto Faindane Phyri em destaque.

A se confirmar o nome de “Mwasiafumbi” como novo líder da Junta Militar, é de se esperar o estremar das posições entre esta ala e o actual presidente da RENAMO, Ossufo Momade, por serem conhecidas velhas relações tensas entre ambos, situação esta do domínio público no seio dos militares da “perdiz”.

Aparentemente, o que pode ser notícia nos dias que correm pode, sim, ser o crescente número de desmobilizados que se presume estarem a regressar às matas, presumivelmente insatisfeitos com o ritmo da marcha do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reinserção (DDR), conforme, por exemplo, reportamos na nossa edição de 15 de Fevereiro de 2022 (Redactor N° 6259, págs. 1, 2 e 3).

Tem se dito em círculos reservados que a Junta Militar tem acesso a armas e munições pertencentes à RENAMO e que foram movidas para locais não identificados no processo de DDR acordado com o governo de Filipe Nyusi e Ossufo Momade, este violentamente contestado pelo grupo rebelde.

Refira-se que a Junta Militar chegou a suspender a actividade armada na sequência do cessar-fogo unilateral declarado pelo Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, em 24 de Outubro de 2020, para criar condições para um acordo, mas sem resultados palpáveis.

Igualmente em algum momento o Governo anunciou tréguas para facilitar a rendição do grupo insurrecto da RENAMO, mas sem resultados relevantes, salvo algumas deserções de alguns elementos da Junta Militar.

A seguir à liquidação física de Nhongo, o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, advertiu para não se embandeirar em celebrações de fim das hostilidades na zona Centro, onde a Junta Militar habitualmente desencadeia as suas incursões, pelo simples facto de se ter neutralizado Mariano Nhongo.

No âmbito do DDR, dados disponíveis dão conta de que até agora foram desmanteladas 11 das 16 bases identificadas da RENAMO, assim como desmobilizados mais de 60% dos guerrilheiros da RENAMO, encaminhados para os “centros de acomodação”, calculando-se que restem menos de 2.000.

Aos olhos de alguns observadores da política moçambicana, o processo de integração dos guerrilheiros da RENAMO na Polícia da República de Moçambique (PRM) e FADM continua lento e são reportadas incorporações em postos inferiores ao previsto. O governo apressou-se a cumprir a colocação de oficiais superiores da RENAMO nos departamentos de Operações, Informações Militares e Comunicações do Estado Maior das FADM assim como em quatro repartições do Exército, uma brigada (Tete) e dois batalhões (Pemba e Quelimane).

“O incumprimento do DDR é um barril de pólvora que pode vir a mergulhar Moçambique num banho de sangue”, conforme advertiu, esta segunda-feira, o chefe da bancada parlamentar da RENAMO, Viana Magalhaes, durante a sua intervenção na abertura solene da sessão da Quinta Sessão da Nona Legislatura da Assembleia da República

Redactor

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