Nampula: uma província marcada pela repressão e pela dor
Nampula, berço de histórias de resistência e resiliência, tornou-se, tragicamente, o epicentro das mortes durante o período das manifestações. Não se trata apenas de números ou estatísticas; trata-se de vidas humanas, de sonhos interrompidos, de famílias desfeitas.
A violência que assola as ruas da província não é apenas uma violação dos direitos fundamentais, mas um reflexo sombrio de um sistema que perdeu a sensibilidade e o respeito pela dignidade humana.
A pergunta que ecoa em cada esquina, que permanece sem resposta, é: como a polícia se sente ao silenciar o filho do vizinho? A polícia moçambicana, instituída para proteger e servir, transformou-se em algo que muitos não reconhecem mais. Onde está a compaixão? Onde está o arrependimento ao ver corpos tombarem, muitas vezes de jovens, filhos de amigos, parentes ou conhecidos da comunidade?
O mais perturbador é que, ao que parece, não há ressentimento, não há remorso. É como se a violência tivesse se tornado algo banal, uma prática que não mais pesa sobre a consciência de quem a perpetua. A insensibilidade não é apenas chocante; é uma traição à essência do que deveria ser a polícia: defensora da paz, da segurança e do bem-estar da população.
Será que aqueles que apertam o gatilho se perguntam se a próxima vítima poderia ser alguém de sua própria família? Será que o peso de um grito sufocado ou de uma vida interrompida não perturba o sono daqueles que deveriam proteger, mas que, em vez disso, aterrorizam?
O problema, no entanto, não é apenas individual. A polícia moçambicana opera em um sistema que muitas vezes incentiva a repressão como resposta às demandas populares. A falta de treinamento adequado, a cultura de obediência cega às ordens superiores e a ausência de mecanismos eficazes de prestação de contas alimentam essa espiral de violência.
É preciso perguntar: que futuro estamos construindo quando silenciamos nossos próprios irmãos, vizinhos e amigos? O silêncio que a repressão tenta impor não é sinal de paz, mas de medo. E o medo nunca construiu uma nação forte e unida.
Aos policiais, deixamos um apelo: lembrem-se de sua humanidade. Lembrem-se de que cada vida que se perde é uma derrota para todos nós, uma ferida que se abrirá por gerações. O poder que vocês carregam deve ser usado para proteger, não para destruir.
E ao governo de Moçambique, deixamos uma exigência: parem de manchar nossas ruas com sangue. Invistam em diálogo, em educação e em justiça. Chega de violência! Nampula e todas as províncias deste país merecem viver em paz.
Porque cada vida importa. Porque cada jovem silenciado é uma voz que jamais será ouvida novamente. Porque Moçambique não pode prosperar enquanto o medo for a linguagem oficial de seu povo.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA