Naparama conta como certa vez “matrecaram” três insurgentes

Em Balama, na província de Cabo Delgado, o Redactor esteve, recentemente, à conversa com um dos integrantes dos grupos de “naparamas” – milícias moçambicanas que surgiram na década de 1980, no contexto da guerra civil moçambicana, que aliam conhecimentos tradicionais e elementos místicos para defender as suas aldeias. O Governo de Moçambique aproveita-se deles para, em parceria com as Forças de Defesa e Segurança (FDS), combater os chamados “insurgentes” ou AlShabab no Teatro Operacional Norte. O nosso entrevistado apenas aceitou falar das suas peripécias na condição de não ser identificado. Acompanhe:

Redactor: Pode dizer-nos o seu nome?

AA: O meu nome é … (pediu para não ser mencionado o seu nome, mas os documentos que nos exibiu o dão como sendo AA)

R: O que é isto que tem nas mãos?

AA: Uma arma extremamente mortífera. É um poderoso amuleto e tem a tarefa de complementar a acção desta arma enrolada neste lenço vermelho.

R: Como funciona?

AA: Isto dá um certo palpite e direcciona-te para onde está o teu alvo, ou seja, inimigo, os insurgentes. E dá-te muita coragem de fazer acção macabra, sem piedade.

R: Já esteve em combates? Acredito que a ideia é fazer frente aos insurgentes?

AA: Sim. Já travei dois combates, apesar de este meu distrito (de Balama) não ter sido muito assediado por insurgentes. 

R: Conte-me como foi essa experiência.

AA: “Matrecámos” (iludimos/surpreendemos) três AlShabab num certo dia. Apanhámo-los de surpresa, enquanto preparavam comida. Eles tinham armas de fogo ao lado e nem se aperceberam que nós já estávamos com eles. O instinto de cada um de nós era o mesmo. Era fazer parte da matança deles, todos de uma só vez e sem conversa prévia. Fizemos a nossa parte e carregámos todos os pertences deles.

R: O que é que levaram deles e para onde?

AA: Panelas, armas de fogo e tudo o que tinham. Fomos entregar ao comando do distrito.

Alguns dos instrumentos usados pelos Naparamas

R: E os corpos?

AA: Livrámo-nos deles nas matas. Com este amuleto tu não te sentes bem a amparar ou acariciar o teu inimigo. Nós éramos nove e eles apenas três.

R: Foi o único episódio?

AA: Não, não. Uma vez, um de nós notou que estávamos muito perto de possíveis inimigos. Foi fácil descobrir fogo, ou diria, fumaça numa zona alta, diria até montanha. Fomos para lá e, depois de três ou quatro minutos, descobrimos que eram militares. Um de nós aproximou-se deles e, quando pretendia conversar com eles, começaram a usar armamento pesadíssimo contra ele. Todos nós interviemos e tentámos acalmá-los, mas era difícil porque já tinha sido disparado algo e todos ficaram agitados. De tanto dispararem, viram que nada estava a acontecer connosco, não morríamos e não ficávamos feridos. Uns começaram a fugir e apenas um e outro corajosos renderam-se e ficámos a conversar. Da conversa, eles disserem-nos pensavam que nós éramos AlShabab e nós também pensávamos que eles eram AlShabab camuflados no uniforme militar do Estado. Mas nos entendemos e fizemos as pazes.

R: Como terminou este desentendimento? Houve morte?

AA: Não. Eles apenas pediram-nos para irmos juntos até ao comando do distrito para dar ocorrência. Fomos. O comando do distrito reconheceu o erro deles, ao colocarem um posto avançado dos homens da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), da Polícia da República de Moçambique (PRM), sem informarem a nós, à base e à força local. Aliás, eram homens que vinham da província e nem o distrito de Balama sabia sobre a presença deles.

Redactor

https://bit.ly/41XbJTI

Já há relatos de que algumas famílias deslocadas que regressaram a Macomia voltaram a deixar as suas casas por medo de serem acusadas de colaborar com os insurgentes

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 20 de Junho de 2023.

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