Negociatas
Negociatas – A necessidade a aguçar o engenho de qualquer um e quando se trata de negociatas a inteligência está na ponta da cabeça.
Neste Moçambique onde se vende e se compra quase tudo, nestes meus mais de cinco décadas vagueando neste tenebroso mundo julgava eu ter ouvido e visto de todo o tipo de negociatas, mas era engano meu.
Assim eu julgava porque na década de 80, do século passado, no auge das idas de numerosos jovens moçambicanos a diversos “países amigos/irmãos comunistas”, para alguns do Leste europeu, dentre as mais variadas negociatas para se conseguir viagem para aqueles “paraísos” tomei conhecimento de uma que na altura julguei sui generis:
Halima, na flor dos seus 19 anos, pretendia seguir para a República Democrática da Alemanha, vulgo RDA, mas naqueles “mamaricos” com o seu amado Banito, contraíra gravidez e não estava a fim de abortar. E sabia que devia que fazer alguns exames para ser apurada.
Depois de muito pensar, decidiu negociar a compra de urina à Zubaida, uma amiga dela de longa data. E como esta não estava grávida, tudo deu certo e Halima logrou permissão para ir à RDA, naquela de que “o resto seja lá o que Deus quiser, porque para frente é o caminho e apenas Michael Jackson ganhou a vida recuando…”.
A minha convicção de que já (ou)vira tudo em termos de negociatas foi quando um primo meu residindo e trabalhando na vizinha República da África do Sul me falou de um “negócio” , dentre vários, para se ganhar facilmente valores da relativamente “fabulosa” segurança social da terra do Rand.
Não é que o bom do Ngulele, cansado de trabalhar no severamente penoso ambiente das galerias de uma das minas de platina na província sul-africana de Limpopo, decidiu abordar o seu conterrâneo moçambicano por lá residente, tuberculoso, Nuvunga, para lhe vender um pouco do seu escaro para apresentar no serviço como prova de que sofre de tuberculose…
Haaam! E aquela do meu antigo vizinho que sempre que se sentisse “muito apertado” financeiramente “alugava” a esposa a quem precisasse “passar alguns instantes” com ela a troco de alguns “trocados”…
Há dias estava eu nas minhas andanças num animado fim-de-semana no Boquisso e, num daqueles numerosos convívios ao ar livre com muita música barulhenta e bebidas alcoólicas a rodos, acompanhei, por acaso, a uma negociata envolvendo três mulheres.
Uma estava grávida e as outras duas não. A grávida estava a ser assediada para que lhes vendesse urina, para fazer testes rápidos a fim de enviar os resultados via WhatsApp, aos “namorados”, casados…
O resto da história?
Talvez também me refugiar no lema da Halima: … apenas Michael Jackson ganhou a vida recuando…!
Enfim, negociatas de (em)pobre(cido)s!
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 09 de Novembro de 2018 na rubrica semanal TIKU 15!
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