Nem tudo é mau nas manifestações em Moçambique
Como se sabe, quem vive em Moçambique, e em particular na cidade capital, Maputo, está a passar por momentos inusitados, que não têm nada a ver com os habituais festejos de Natal e de Fim do Ano.
Tal como em muitos outros países de tradição judaico-cristã, por estas alturas deveríamos estar nos shoppings à procura dos últimos presentes para a família e, sobretudo na véspera do Natal, dia 24 de Dezembro, a comprar, nas pastelarias, filhoses, rabanadas, sonhos, doces de Natal, bolo-rei e outras iguarias próprias desta quadra festiva.
Mas neste ano, nada disso está a acontecer, por conta das manifestações políticas e da violência urbana a que estamos a assistir, e a sofrer, por quase todo o País.
Já tínhamos sido alertados que, neste ano, “não haveria festas nem fim-do-ano”, nem “ajuntamentos familiares”, “cada um na sua casa”. Mas quem acreditou mesmo nisso?

Converti-me em ajudante de cozinheiro da minha esposa
Mas não é que, hoje, estamos mesmo confinados nas nossas casas, desde o dia 23, sobretudo logo após a validação dos resultados eleitorais, e que não deram vitória a quem está a incitar à violência?
Mesmo para comprar o pão de cada dia não conseguimos ir à rua. Ao longo das vias, somos confrontados com portagens humanas, constituídas por jovens que habitualmente nos lavam e guardam os nossos carros, convertidos agora em milicianos revolucionários, em busca da verdade eleitoral e que, entretanto, nos cobram taxas para nos locomovermos pelas estradas, sob pena de vandalizarem as nossas viaturas.
O que nos resta fazer?
Ficar em casa e nos reinventarmos.
Eu, por exemplo, por força da situação, converti-me em ajudante de cozinheiro da minha esposa, sobre quem descobri que, afinal ela cozinha como uma verdadeira “chef”. Há anos que não a via a pilotar o fogão.
Assim, para a nossa consoada de hoje, estamos a preparar não só rabanadas, como, no lugar do peru que não temos, um frango bem moçambicano, tipo panelei…, mas com laranja e ainda, para não destoar da tradição portuguesa a que estamos habituados, um bacalhau a lagareiro, com batata a murro.
Portanto, posso concluir que nem tudo é mau nestas manifestações.
Com as adversidades, aprendemos novos hábitos e nos redescobrimos, com novas funcionalidades, saberes e sabores também.
Bom Natal para todos e apesar de tudo sejam felizes.
LEANDRO PAUL