Ninguém está bem em Palma

Ninguém está bem em Palma – Visivelmente esgotada, Fátima Amade chegou hoje a Pemba, Norte de Moçambique, sem saber o que fazer, mas com a certeza de não querer regressar a Palma, uma cidade assolada pela fome e odor da morte, após o ataque de insurgentes.

“Ninguém está bem em Palma. A situação ainda não está bem, ainda cheira às pessoas que morreram, não estamos seguros em Palma”, disse à agência Lusa Fátima, de 26 anos, acompanhada pelo filho e pela sobrinha, ambos menores.

Fátima Amade fazia parte de um grupo de cerca de 15 deslocados, alguns dos quais crianças, que chegaram pela 10:40 de hoje ao aeroporto de Pemba, na província de Cabo Delgado. À saída do avião, um homem atirou-se para o chão de braços estendidos, como se finalmente se sentisse em segurança.

A equipa de voluntários que recebeu estas pessoas apressou-se a encontrar um tradutor que pudesse explicar a uma mulher que apenas falava suaíli, e que estava combalida com todo o aparato, como será a vida a partir de agora.

Fátima mostrava-se cansadíssima e contou que deixou para trás o marido, a irmã e o irmão, “todos com crianças”. Em Pemba tem familiares, mas ainda não os conseguiu contactar porque estava sem bateria no telemóvel.

Em 24 de Março, dia em que Palma foi invadida por terroristas, estava a trabalhar quando recebeu uma chamada a informá-la de os insurgentes tinham entrado na cidade.

Nesse dia ficou no quintal a ver a chegada dos bandidos, que foram até onde estava, “levaram um carro e saíram”. Contudo, a situação agravou-se no dia seguinte.

“Entraram, aqueles gajos, no quintal e nós saímos porta fora. Andámos toda a noite. Sofremos muito. Sem comer, sem nada. Até hoje não estamos seguros, estamos mal, a população de Palma. Não temos nada para comer”, lamentou.

Fátima e a família estiveram três dias escondidos no meio da mata, alimentando-se da mandioca e melancia que encontravam.

À Lusa contou que uma colega foi morta enquanto assistia ao desenrolar dos acontecimentos a partir do quintal

“Apenas saí eu [de Palma], toda a minha família está no portão [perto do aeroporto de Afungi]. Não vou viver bem por deixar a família lá toda, as crianças.

O relato de Fátima Amade coincide com o de Amina Maro, de 19 anos, que também chegou a Pemba no mesmo voo humanitário, enquanto carregava o filho com um ano.

Esteve um dia no mato a dormir, com o marido e o filho e sem comer, e escondeu-se na escola de uma outra aldeia nas imediações.

Em Pemba, Amina Amaro pensa dar continuidade aos estudos e seguir para a faculdade para ser professora.

A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projectos de gás natural.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia, mas as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas reassumiram completamente o controlo da vila, anunciou no domingo o porta-voz do Teatro Operacional Norte, Chongo Vidigal, uma informação reiterada esta quarta-feira pelo Presidente moçambicano.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona. (Ninguém está bem em Palma)

Redactor/Lusa

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