Novas críticas da Fitch
O analista da agência de notação financeira Fitch que segue a economia moçambicana considera que os bancos que emprestaram dinheiro às empresas públicas do país deviam ter tido mais cuidado, corresponsabilizando-os pela actual situação de incumprimento financeiro.
Em entrevista à agência de informação financeira Bloomberg, Federico Barriga Salazar disse que os investidores deixaram-se levar pela narrativa da criação de riqueza em África e foram excessivamente optimistas.
“Houve exuberância dos investidores no mercado sobre África ser a derradeira fronteira, há três anos”, disse o analista, vincando que “a falta de transparência do Governo na divulgação dos empréstimos evidencia a fraqueza dos padrões de governação e na moldura de políticas públicas”.
Em causa está o empréstimo de USD 750 milhões à Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), feito a uma empresa desconhecida, apenas com base numa garantia governamental de legalidade duvidosa e apresentado num prospecto de duas páginas, acrescentou o analista.
Esse empréstimo inicial acabou por ser convertido em títulos de dívida soberana no princípio deste ano, e Moçambique está agora novamente a tentar reestruturar os USD 727 milhões.
No que pode ser uma resposta ao argumentário dos investidores, que aparentemente se deixaram convencer pelas promessas de receitas resultantes da exploração de gás natural, Barriga Salazar afirmou que “muitos estavam a dizer que Moçambique acabaria por receber uma cascata de receitas do petróleo e gás”, mas “mesmo no mais oPtimista dos cenários, nunca teriam tido aquelas receitas do gás natural liquefeito por esta altura”.
A agência de notação financeira desceu o ‘rating’ de Moçambique para RD – Restricted Default, um passo acima do mais baixo nível de incumprimento financeiro.
Moçambique está num impasse com os credores na sequência do pedido de reestruturação de 1,73 mil milhões de dólares norte-americanos em empréstimos comerciais, já depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter suspendido a ajuda ao país quando foram divulgadas dívidas escondidas no valor de USD 1,4 mil milhões.
O Governo quer chegar a acordo com os investidores para preparar o caminho para um novo acordo financeiro com o FMI, mas um grupo que representa a maioria dos investidores rejeitou a proposta, dizendo que não começará as negociações até um acordo com o FMI estar preparado e o resultado da auditoria internacional estar publicado.
Moçambique assumiu em Outubro que não tem capacidade para pagar os empréstimos do Credit Suisse AG e do russo VTB Capital, embora pareça estar em condições de pagar a prestação de USD 60 milhões em Janeiro.
REDACÇÃO & AGÊNCIAS