O calvário que é circular depois do Rio Save na EN1

Só me faltou chorar, depois de passar o Rio Save em direcção ao Norte. O meu destino era Chimoio e fazia-o pela primeira vez, experiência inesquecível, pelos piores motivos.

A agravar o quadro foi o facto de, depois do Rio Save, ter feito a minha viagem de pé e numa noite de segunda-feira, num autocarro lotado, depois de termos sido socorridos por um outro, para, no mínimo, chegarmos aos nossos destinos.

É que, caso contrário, corríamos o risco de passar a noite no meio da mata porque o autocarro no qual partimos da cidade de Maputo teve uma avaria grossa logo depois de atravessar o Rio Save.

Foram cerca de 200 quilómetros de um autêntico calvário. Viajámos no tumulto de subidas e descidas das covas da EN1, e, para piorar, de pé, um dos piores lugares por se passar durante uma viagem.

A viagem é feita entre poeiras, covas e mais covas, repito, covas e não buracos que vemos por aí na maioria das cidades de Moçambique. Os carros mais comuns que se vêem nesta via são os de grande porte, porque os de baixa suspensão, com muita facilidade perdem a sua resistência. Poucos desses passam por lá.

Viajar na condição em que a estrada está (péssima) é um martírio para os passageiros e para as próprias viaturas. Os habitués referem que todos os dias há avarias naquele troço, porque se deve parar para substituir uma peça para se poder prosseguir com a viagem. Proprietários e transportadoras perdem avultadas quantias em dinheiro todos os dias para concertar avarias agravadas pela condição péssima da rodovia. Impressionante nisto tudo é, ciclicamente, aparecerem engravatados e perfumados no terminal da Junta, na cidade de Maputo, para “inspeccionar” as condições das viaturas, sem nunca se preocuparem em ir inspeccionar e mandar reparar as condições da via entre o Rio Save e o nó de Inchope.

Permitam-me a ousadia: que o “Excelência” e sua habitual comitiva se faça àquele troço rodoviário para sentir na pele o quotidiano do comum do moçambicano quando viaja pela EN1. Talvez depois disso possa pensar em mandar resolver as condições naquela secção.

Durante a viagem, ao meu redor todos reclamavam e questionavam cadê o governo que não vê isso. É que o cenário de cada viagem é de carros avariados e os passageiros têm de adiar ou atrasar a chegada aos seus destinos. Simplesmente doloroso!

E ainda me lembro do sofrimento do senhor João, que durante a viagem para Maputo, tendo como foco o Hospital Central, sofreu vezes sem conta devido ao estado debilitado da sua saúde. O objectivo da viagem era uma operação cirúrgica. Facilmente se pode imaginar o múltiplo sofrimento deste homem ao longo dos 200 quilómetros entre Inchope e Save.

As nossas estradas não têm qualidade, são um verdadeiro martírio para o passageiro e um cemitério para as viaturas. Não há carro que dure naquelas covas e nos pedaços de estrada que ali existem.

Aos dirigentes deste país, que passam a maior parte do tempo disputando pelo poder e atacando-se pelo poder, matando e, por vezes, passando por cima da lei por causa do poder e esquecem-se do essencial, que é o povo, as dificuldades que o povo enfrenta, por favor, olhem pelo vosso povo!

NOÉMIA MENDES

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 10 de Janeiro de 2024, na rubrica de opinião denominada Geração 2000

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Redactorfavor ligar para 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz 

Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais ou pagando pelo paypal associado ao refinaldo@gmail.com

Gratos pela preferência

https://bitly.ws/ZxXe

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *