O combinado

Nestes dias lembrei-me de duas figuras imponentes no nosso solo pátrio. Uma chama-se Jumua Aiuba e outra mano Azagaia.

Jumua Aiuba era o cronista que sempre abordava as verdades de forma cómica e trazia o seu lado humorístico fazendo com que os atingidos não tivessem raiva das abordagens. As crónicas dele eram uma bala mágica.

Era um exímio e génio cronista. Lembro-me sempre dele nesta campanha eleitoral. O texto que iria trazer sobre a ausência do Ossufo Momade, a morte precoce da CAD, a contagem de votos no Conselho Constitucional. Estes e mais outros temas seriam um café com adoçante.

Jumua Aiuba, partiste cedo quando os nossos ouvidos queriam mais das suas crónicas que só o estilo literário cabia dentro do seu pensamento. A caneta era como uma bolinha de xima rebocada nas mãos para ser lançada no orifício que se encontra na cabeça que se chama boca. 

Ao mano Azagaia, lembrei-me muito sobre o “combinado”. Nisso, vieram-me dois artigos da Constituição da República de Moçambique. O artigo 51 que dá direito aos moçambicanos à manifestação e reunião. Algo que nunca saiu do papel. Este artigo sempre dormiu lá e está uma múmia.

O outro artigo é o 80: direito à resistência e recusa a acatar actos ilegais. Vejo alguns dos meus irmãos agentes da Polícia rasgando este artigo e batendo os seus irmãos sem farda em nome de ordens superiores. Azagaia deixou um vazio que se transformou em uma úlcera.

Com ele o povo combinou em trocar o opressor para que o poder volte às mãos de quem nunca o teve, embora a lei diga que ele é o legítimo proprietário. Com ele, o povo combinou não baixar a cabeça cedendo o precioso ao parasita.

O povo combinou e o combinado está a acontecer. É só ver o que acontece em Nacala, Quelimane, Maputo, África do Sul e na Europa. Vendo senhoras chorando no peito de um candidato e se dispondo a morrer em nome da liberdade. Não sei se é cansaço ou chegou a era do iluminismo em Moçambique. 

O povo decidiu não trair o mano Azagaia. Eu creio que se o mano Azagaia estivesse assim nessa campanha eleitoral, estaria feliz e podia até colocar ponto final na sua carreira musical, pois o objectivo foi atingido. 

Se o povo está no poder, o poder deve estar no povo e se, “o combinado” faz-se sentir nas famílias, que não arreda o pé. Se a frente é o caminho, “a luta continua!”.

“O combinado”

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 29 de Agosto de 2024.

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