O Estado foi capturado?

Quando já não se pode mais disfarçar que o Estado capitulou diante dos tentáculos dos criminosos sem rosto, urge uma transfiguração iminente dos detentores do “uso da violência legitima”, conforme rezam os manuais da ciência política.

O assassinato do edil de Nampula, Mahamudo Amurane, no dia que se supõe ser da “paz e reconciliação”, veio provar, para a nossa infelicidade colectiva, de que estamos no degredo!

Os ataques às liberdades fundamentais no país são incentivados pela falta de responsabilização penal, pois os criminosos de fato e gravata sentem-se endiabrados na sua apetência assassina, porque sabem que não lhes vai acontecer nada.

É a impunidade no seu ponto mais alto!

O bárbaro e trágico assassinato de Mahamudo Amurane vem aumentar uma lista de figuras públicas assassinadas nos últimos anos no país.

Em 2014 o procurador da cidade de Maputo Marcelino Vilankulos foi assassinado a tiro quando se dirigia de carro para a sua casa, nos arredores da capital.

Marcelino Vilankulos tinha em mãos processos-crime associados à onda de raptos que na altura assolavam as principais cidades moçambicanas.

Em Março de 2015, foi assassinado o constitucionalista Gilles Cistac.

Em 2015, foi também assassinado o jornalista Paulo Machava.

Em Outubro de 2016, foi assassinado o conselheiro do Estado Jeremias Pondeca.

Em Janeiro de 2016, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado e gravemente ferido a bordo da sua viatura na cidade da Beira, província de Sofala. O seu guarda-costas morreu no ataque.

Em Abril de 2016, José Manuel, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da Renamo e membro da ala militar do principal partido da oposição, é morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira.

Em Maio de 2016, o docente universitário e analista político José Jaime Macuane é sequestrado no centro de Maputo e levado para os arredores da cidade, onde os agressores o balearam nos membros inferiores.

Os casos acima referidos somam-se a outros mediáticos, tais como os assassinatos do jornalista Carlos Cardoso, em 2000, do economista Siba Siba Macuácua, em 2001, e do juiz Dinis Silica, em 2014.

Sejam quem forem os activos de esquadrões da morte a soldo destes crimes hediondos, está mais do que na hora de a autoridade do Estado, com o recurso aos seus meios, esclarecer todos os crimes ainda não desvendados. Sob pena de se não os esclarecer, o país ser visto nos relatórios de agências internacionais como uma nação gangsterizada.

Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: O Estado foi capturado ou está em falência latente?

LUÍS NHACHOTE

Este texto foi publicado em primeira mão na versão PDF  do Correio da manhã no dia 12 de Outubro de 2017, na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA

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