O funeral antecipado de uma democracia

Era uma vez uma democracia jovem, cheia de sonhos e promessas. Em 1994, ela nasceu em Moçambique com direito a aplausos internacionais e flashes de câmeras. Porém, como todo bebê de berço humilde, cresceu enfrentando muita dificuldade. 

Já nos primeiros anos, ela começou a mostrar sinais de fraqueza. Os políticos, que deveriam ser seus cuidadores, pareciam mais interessados em quem ficaria com a herança do que em sua saúde.  

Décadas depois, em 2024, a democracia moçambicana não aguentou mais. Um grupo de indivíduos, vestidos de terno e gravata, decidiu que já estava na hora de realizar o funeral. “É melhor enterrar antes que alguém perceba que ainda está respirando!”, disseram eles, preocupados em garantir que o poder continuasse em mãos familiares.  

O velório foi organizado com requinte. O caixão, adornado com bandeiras e discursos bem ensaiados, foi carregado por aqueles que, supostamente, deveriam protegê-la. Lá estavam todos: os mestres da fraude eleitoral, os especialistas em manipulação de resultados e até o “grande narrador”, que jurava que tudo foi obra da vontade divina.  

No discurso, um dos líderes fez questão de dizer:  

— Nós estamos aqui não para enterrar uma democracia, mas para celebrar sua longa e “frutífera” vida. Afinal, quantos países podem dizer que tiveram eleições tão bem coreografadas?  

O público riu, ou melhor, tentou rir, mas estava difícil respirar. A censura no ar era pesada, e a polícia estava de olho em quem dava gargalhadas fora do tom.  

Enquanto o caixão descia à cova, alguns activistas, armados com celulares e hashtags, tentaram gritar:  

— Ela ainda está viva! Temos provas!  

Mas foram rapidamente silenciados por uma chuva de “fake news” e notificações judiciais. O coveiro, com um sorriso malicioso, jogou a primeira pá de terra enquanto dizia:  

— Aqui jaz a democracia moçambicana. Que ela descanse em paz… ou, pelo menos, fora das redes sociais.  

E assim terminou o funeral. No final, os convidados brindaram com um champanhe importado (porque a crise é só para os outros) e prometeram se encontrar novamente em 2029, para repetir a dose. Afinal, em Moçambique, a democracia pode morrer, mas o show sempre continua.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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