O nosso maior valor é a vida?

O nosso maior valor é a vida?  Começa a ser lugar-comum que altas figuras do nosso mosaico pereçam, vítimas de doença, em clínicas ou hospitais fora do país. É um paradoxo tendo em conta que o principal slogan do Ministério da Saúde afirma que “o nosso maior valor é a vida”!

O mais gritante caso foi do antigo director-geral do Hospital Central de Maputo, a maior unidade hospitalar do país, que teve o seu último suspiro numa unidade na vizinha África do Sul!

Não se conseguem encontrar outros epítetos diante de tais factos: se o director não confia no seu próprio hospital, quem sou eu para confiar?

A Educação e a Saúde devem estar no topo de prioridades de qualquer governo que tenha senso de racionalidade. Quando os que desenham políticas de Educação e Saúde não querem os seus filhos dentro desse sistema é sintomático de que alguma coisa para eles se assemelha a esterco!

Há dias fiz uma enorme ronda pelos hospitais públicos, e o que lá se pode assistir é altamente desolador. Boa parte dos funcionários está ali sem motivação e as horas a fio que se levam para ser atendido, em alguns momentos, se parecem com uma eternidade.

Quando num hospital público a máquina de Raio X tem a sua impressora avariada e aos pacientes lhes pedem os celulares para fotografarem os seus resultados, significa que batemos no fundo! Estamos no degredo. E nus!

Quando depois do atendimento ao enfermo é entregue uma receita, na farmácia local irá encontrar um terço da medicação que está prescrita. O resto dos medicamentos, que estará ao alcance de poucos, só é possível encontrar nas farmácias privadas.

E com um pouco de investigação, não há-de ser difícil escrutinar quem são os donos das mesmas…

Com esse quadro não fica difícil de entender as razões de várias figuras sonantes da esfera pública detestarem este tipo de unidades hospitalares.

É esse quadro sombrio que os faz correr para as clínicas no estrangeiro para terem uma morte digna. Só ainda não entendi o slogan corrente, mas parece que o nosso maior valor não é a vida…

No hospital público paga-se um metical de consulta e cinco pelos medicamentos… Seis meticais é o preço que se pode pagar para se ter uma morte que irá para as estatísticas.

Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: O nosso maior valor é a vida?

LUÍS NHACHOTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 08 de Março de 2018, na rubrica semanal Do Lado da Evidência.

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