O Silêncio do INGD e a Solidariedade Popular em Mecuburi
O distrito de Mecuburi enfrenta uma calamidade sem precedentes após o ciclone Chido deixar 1.190 famílias desabrigadas.
Homens, mulheres e crianças, desprovidos de abrigo, encontram nas árvores seus refúgios precários contra o frio e a chuva.
Entretanto, enquanto o sofrimento se alastra, o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), cuja missão deveria ser a resposta rápida e eficaz em momentos como este, permanece num silêncio ensurdecedor.
A ausência do INGD é um grito de indiferença que ecoa nas terras de Mecuburi. Nenhuma tenda de emergência, cesta básica ou plano de apoio psicológico foi testemunhado pela comunidade até o momento.
É legítimo questionar: há uma representação do INGD no distrito? Se há, por que não está em acção? Movimentam-se forças militares para outros propósitos, criam-se logísticas complexas para objectivos estratégicos, mas o mesmo esforço não é dedicado às famílias que perderam tudo. Parece que, para alguns, a guerra é mais prioritária do que a vida de uma criança que dorme com fome.
Essa negligência institucional lança uma sombra de dúvida sobre o valor que o governo atribui ao povo. A pergunta que ressoa é: “O poder tem mais valor do que a vida de 1.190 famílias?” O descaso reflecte uma desconexão preocupante entre o Estado e os cidadãos que deveria proteger.
Apesar disso, Mecuburi mostra que o espírito humano é resiliente. Enquanto o INGD se esconde em sua inércia, populares e microempresários locais assumem a responsabilidade que não lhes cabe. Com recursos limitados, tiram dinheiro do próprio bolso, organizam arrecadações e estendem a mão aos necessitados. A solidariedade entre irmãos transforma a dor em esperança.
Reconhecemos e aplaudimos o esforço de todos que, mesmo diante das adversidades, não se omitem. Pessoas comuns, com corações gigantes, mostram o que significa humanidade.
São agricultores que doam parte de suas colheitas, comerciantes que oferecem mantimentos tirando das suas lojas, e jovens voluntários que ajudam de alguma forma. Eles são os verdadeiros heróis deste momento difícil.
Essa tragédia, no entanto, deve servir como um alerta para reflectirmos sobre as estruturas de gestão de desastres no país. Não podemos normalizar a ausência de respostas adequadas do INGD.
É preciso pressionar por mudanças, exigir transparência e cobrar resultados. Mecuburi merece mais do que o abandono institucional; merece dignidade e cuidado.
Que o exemplo de solidariedade da comunidade inspire aqueles que têm o poder de fazer mais. E que o grito silencioso de Mecuburi alcance os ouvidos de quem pode – e deve – agir.
Que o INGD não continue sendo um saco vazio preenchido pelo vento.