O túmulo errado

O túmulo errado  – As festas do Natal e da transição do ano, não foram bem passadas pela família Zindhede, devido a uma falha técnica dum ritual tradicional africano.

Pretendia-se na festa da família, aproveitar a companhia dos mais velhos, para traduzir-se um constante sonho que apoquentava um dos filhos que vive em Maputo.

A volta da fogueira rodeada por idosos, contou que sonhava constantemente o falecido pai, a lhe pedir “uma casa” facto que ultimamente deixava-o preocupado.

Sem rodeios e com um pouco de grossa na cabeça, os mais velhos deduziram que desde a morte do pai, em 1997, a casa que se referia no sonho, era uma campa condigna, já que o túmulo onde jaze o defunto, continuava coberto de lama.

Para isso, foi contactada uma agência funerária para a construção da campa, mas antes os velhos ainda sob efeitos do álcool, dirigiram-se ao cemitério de Save, para localizar o túmulo que há vinte e dois anos, segundo fontes orais, estava debaixo duma massaleira.

Fizeram as devidas rezas evocando os deuses e, como tratava-se dum cemitério comunitário, a mata densa não dava garantias certeiras do lugar, mas um dos testemunhas que afirmava ter vivido o momento naquele ano, apontou sem hesitar o sepulcro. É aqui onde guardamos Zindhede.

Limparam o local e os trabalhadores da agência funerária deslocaram-se para edificar a campa de mármore, que devia estar pronta em seis horas.

Quando começaram a fundação caiu dum arbusto uma serpente e depois um enxame sobrevoou o local, sem fazer mal aos dois funcionários da entidade contratada. Era um signo que precisava ser descodificado, mas como não foi deduzido o momento, ficaram na naturalidade.

Edificaram a tumba no meio de dificuldades, ora sono, ora serpentes a caírem, ora abelhas, entre outras coisas anómalas típicas da África negra. O estado de embriaguez, aliado ao mato denso do cemitério, fizeram confusão aos velhos que foram na identificação do local, afinal o túmulo onde era edificada a campa marmorizada, era de um outro defunto.

Naquela noite a família Zindhede, neste caso a dona da obra, o empreiteiro e os idosos que identificaram e fizeram limpeza ao local, tiveram visitas dum invisível, que exigia barulhento, a destruição da campa construída por cima do seu cadáver.

O fantasma que era macua chutava panelas e outros electrodomésticos no interior das residências dizendo, “estou aqui, não vos conheço porquê é que fizeram casa para mim, quem sois vós? Tire-me daqui senão vão comigo”.

Quem ia suportar aquela ameaça?

Assim que falo, já que os envolvidos tiveram o pesadelo, voltaram a reunir-se para no dia seguinte, destruírem a campa construída no lugar impróprio e iniciar novas pesquisas para localizar o verdadeiro túmulo, onde descansam os restos mortais do velho Zindhede.

A África nos orgulha por isso são coisas da nossa terra. (O túmulo errado)

Na próxima sexta-feira (08 de Abril, na versão PDF do jornal Redactor)

ORTEGA TEIXEIRA

Este artigo foi publicado intitulado “O Túmulo Errado ” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 31 de Março de 2022, na rubrica OPINIÃO.

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