O último conselho

Sempre os conselhos são bons, equiparamo-los com sal, que se dá sem muita burocracia. Os conselhos também nem todos são construtivos, há aqueles recheados de inveja e ódio. Outros oportunam os momentos para lhe enfraquecer. Há, porém, conselhos que lhe levam até à êxtase. A esses, nós chamamos senhores conselhos. 

Recebi há anos uns conselhos de gente boa e bem vestida, mas de mente de amendoim. Essa gente que se fazia de vidente e sabichona, fez seu trabalho, aconselhar, que é bom também. Num desses dias pela tarde, o sol caindo e deixando a sua marca amarelada nas paredes das casas, disse o homem: “tomaste uma decisão errada…”

Olhei-o e disse. Pois bem, irradia meu rosto e irrompe de alegria meu coração, pois do errado quero aprender. Nasci numa época errada onde a guerra no meu país matava muita gente, crianças misturadas com feijão na panela e todo horror que se possa imaginar. Aí sentia-se o sal das lágrimas 😢. 

Eu vim ao mundo nessa época. Já imaginou em plena tarde da sexta-feira quando a minha mãe entra em trabalho de parto, os bandidos viessem e encontrassem ela imobilizada, sem força, sem como gritar e a esfolassem junto de mim? Aí a história terminava, mas Deus tinha algo a mais por e para mim. Nem eu e nem ninguém sabe. Errei, mas segui, aprendi e amadureci. Assim foi com o filho pródigo.

Eu nasci morto, cresci incerto e estudei desconhecido. O caminho todo da minha vida foi tomar decisões difíceis, mas em todo o caso, agradeço seus conselhos, só te peço que ore por mim e eu por você. 

Mais ainda, nasci numa nação onde a piedade é um saco roto. Ausência de paz e onde a lei do mais forte se vive a cada dia. Tomei decisões para uma refeição, se podia no almoço ou apenas no jantar. Aprendi também que nossos erros ajudam outras pessoas a crescerem e nós mesmos a vivermos de maneira mais madura e adulta. 

Ser adulto não é ter corpo grande e nem cabeça volumosa, é saber sobreviver no meio do caos. Escutar vozes e tomar decisões sejam elas consentâneas com a situação ou não. Ou seja, a cada um de nós lhe é reservado a oportunidade de tomar uma decisão. Só o facto de não tomar uma decisão, já é em si uma decisão tomada. 

O último conselho levamos como as últimas palavras de alguém que tanto amávamos prestes a partir para a eternidade. Ficamos ansiosos para ouvir o que vai dizer para nós e às vezes nem diz nada e parte em paz. Deixa um vazio e o silêncio preenchido de choros esvazia nossa maturidade. 

Portanto, não é pela aventura que partimos, mas pelo que cremos e temos convicção. A natureza é teimosa, o ser humano age conforme o meio que o rodeia. Entre o desequilíbrio mental e a loucura do olho, fique no meio e espere por quem pegará a sua mão.

Tenho ouvido que os melhores amigos se veem no momento da aflição. Eu digo, o melhor amigo do ser humano é ele mesmo. Os outros vêm para agregar aquilo que falta e eles não são obrigados a fazerem parte dos seus momentos sombrios e não pode a amizade terminar por eles não estarem na hora do seu choro.

O seu melhor amigo é você. A melhor versão da sua vida é você. Fazendo minha devocional nessa manhã, Paulo exorta aos Efésios. Efésios 5:15-16 “tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, não sejam insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade porque os dias são maus”.

Veja só que Paulo não especifica o tipo de oportunidade. Mas alerta a ser sábio e não se aventurar em coisas que poderão destruir sua vida e devastar sua família. Aprendi nesta semana que a boca fala, entretanto, a distância entre a boca e acção é longa. Os ouvidos ouvem, mas a distância entre o ouvido e o entender, é longa. 

Aprendi que os corpos se aquecem se estiverem juntos, mas entre a acção aquecedora e os interesses pessoais nota-se demasiado. Uma coisa muito interessante que aprendi é: erre para aprender. Não procure a perfeição para todos os dias ter que enfrentar a dor. No calor, ninguém usa a camisa, mas no frio, todos querem casaco. Assim, seja você o sistema que se auto-atualiza.

Por os dias serem maus, cada um lhe dará conselhos consoante a situação de que vive. Conforme a vida que leva. Conforme as circunstâncias que passou. Logo, acate todos os conselhos e seja selectivo. Não perca nenhuma amizade, pois isso lhe custará caro demais.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 04 de Julho de 2024.

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