Observadores eleitorais

Observadores eleitorais: Nas suas reflexões, Jaccoud, M e Mayer, R (2008, p. 255) definem a observação na linha de uma actividade na qual o investigador “observa pessoalmente e de maneira prolongada situações e comportamentos pelos quais se interessa, sem reduzir-se a conhecê-los somente por meio das categorias utilizadas por aqueles que vivem essas situações”.

Mais adiante destacam o pormenor sobre o “antagonismos como cultura e natureza, sujeito e objecto, afastamento e militância” como elementos preponderantes para uma observação aceitável para discussões metodológicas nas Ciências Sociais.

No entanto, parece que alguns destes pilares – observação pessoal e prolongada, em destaque – são marginalizados em muitas das chamadas “observações eleitorais” em África, precipitando a maioria dos seus protagonistas para o descrédito e, em certa medida, para o ridículo.

Com ou sem razão, foi embaraçoso o que se verificou, recentemente, numa certa capital africana, quando um grupo de jovens literalmente enxovalhou publicamente um colectivo de “observadores eleitorais”, quando, horas após a realização de uma votação, proclamaram o PROCESSO como “livre, justo, transparente e exemplar”.

Deliberadamente ou não, parece estar a virar moda confundir votação com processo eleitoral.

É sabido que em África, se efectivamente necessidade existe, por exemplo, de uma educação cívica pré-eleitoral, esta deve ser direccionada aos dirigentes políticos e gestores dos pleitos, porque o povo, esse, já evidenciou por A + B que está mais que “maduro” para fazer a sua parte sem sobressaltos. Exercício contrário é mero esbanjamento desnecessário de recursos, para satisfazer apetites de determinados “apparatchics”.

Depois de acesos debates, com maior profundidade nas redes sociais, esta semana foi revelado o questionamento, pelos quenianos, da real relevância do papel de algumas missões dos chamados “observadores eleitorais” que, grosso modo, chegam ao terreno na véspera da votação e, horas depois desta fase, emitem o seu parecer sobre o PROCESSO, atitudes que não raras vezes resultam num autêntico linchamento gratuito de um povo inteiro.

Efectivamente, vários grupos de observadores disseram que as eleições gerais quenianas foram justas e credíveis, mas, mais tarde (1 de Setembro de 2017), o Tribunal Supremo daquele país africano veio anular o pleito presidencial.

Se a minha opinião fosse relevante, diria que os integrantes de certas missões de “observadores eleitorais” deviam procurar outra modalidade de fazer turismo a expensas de recursos financeiros alheios e não sob este pretexto eminentemente genocida.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF da edição de 15 de Setembro de 2017 do jornal Correio da manhã de Moçambique, na rubrica semanal TIKU 15!

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