“Operação Dudula” hoje
“Operação Dudula” – Há um perigo eminente de colisão de grupos de motivações antagónicas, uma a favor e outra contra a xenofobia, esta quarta-feira, pelo menos em Joanesburgo, África do Sul.
Tudo porque há um grupo de sul-africanos que convocou para hoje uma manifestação contra estrangeiros ilegais (Redactor N° 6090, pág. 4) e um outro que convida pessoas para participar numa contra-manifestação à primeira, havendo receios fundados pelo facto de ambos os organizadores terem escolhido o mesmo local e mesma hora para a sua demonstração.
A situação está a suscitar receios cavados no seio de muitos moçambicanos e outros estrangeiros residentes ilegalmente na África do Sul, particularmente aqueles que vivem nos bairros periféricos dos principais centros urbanos.
Uma tal de “Operação Dudula” desenhada por sul-africanos anti-imigantes ilegais está a ser promovida através de redes sociais desde semana passada.
Num dos cartazes a que o jornal Redactor teve acesso através da plataforma whatsapp lê-se “Operação Dudula. África do Sul para sul-africanos, primeiro. Nós vamos remover todos os estrangeiros ilegais à força. Ponto de encontro: Salão de Diepkloof, 16 de Junho às 08H00. Limpeza dentro de lojas e vendedores ambulantes. Se você opera ilegalmente é melhor arrumar e sair antes de 16 de Junho”.
O Redactor sabe que também circulam nas redes sociais mensagens e cartazes de condenação à xenofobia.
Um dos cartazes tem a seguinte mensagem “Não à xenofobia. Junta-se à acção contra aumento de xenofobia nas nossas comunidades. Dia 16 de Junho, às 08H00. Local – salão Diepkloof”.
“Não manche o dia e memória dos mártires de Soweto. Classe trabalhadora une-se. Operação Dudula deve cair”, apela o documento, numa alusão ao feriado que hoje se assinala na África do Sul, para recordar o tristemente célebre Massacre do Soweto, Ocidente de Joanesburgo, cujas baixas mortais variam de fonte para fonte: 95, para uns, 176 para outros e há mesmo quem fale de 700 mortos.
O Massacre do Soweto aconteceu quando centenas de crianças negras fizeram uma passeata pelas ruas da zona, alegadamente contra o ensino de língua afrikaans pelo regime racista branco, caminhada brutalmente travada por agentes da polícia fortemente armados.
Tanto quanto se sabe, as crianças recusavam que a língua afrikaans, usada pela minoria branca, fosse obrigatoriamente usada como meio de ensino nas escolas secundárias do Soweto, onde viviam os negros, muitos deles extremamente pobres.
Entretanto, grupos de sul-africanos contra imigrantes querem aproveitar o dia para limparem – “iduduzela”- em língua zulu, imigrantes ilegais.
Fontes do Redactor disseram que o governo reforçou efectivos da Polícia com agentes dos serviços de inteligência para controlarem a situação nos bairros do grande Soweto.
Todavia, os organizadores dos protestos prometeram fazer grande mobilização em diversas regiões da África do Sul.
O jornal Redactor recebeu alguns vídeos de expulsão de estrangeiros em eMbalehle, região de Secunda, província de Mpumalanga, onde residem e trabalham muitos moçambicanos.
Uma fonte disse que a manifestação em eMbalehle começou segunda-feira em protesto contra o corte de energia eléctrica em alguns quarteirões do bairro.
Os manifestantes aproveitaram a oportunidade e foram de casa em casa à procura de estrangeiros que conectaram electricidade ilegalmente, prática comum na zona.
THANGANI WA TIYANI, correspondente do Redactor na África do Sul