Oposição sem ambição

Estamos a menos de seis meses das eleições gerais – eleição do Presidente da República, dos Deputados para Assembleia da República, das Assembleias Provinciais e dos Governadores Provinciais – e, até ao presente momento, vemos uma Oposição apego a programas individuais, a digladiar-se como se não soubesse do que lhe vai acontecer no dia 15 de Outubro.

A nossa Oposição parece ter sido concebida para ser uma oposição, destituída de ambição de ser poder.

A nossa Oposição é oposição. Foge da sua própria sombra. É raro ver uma oposição com postura igual à da nossa Oposição que se recusa a tomar o poder. Quer ser eterna oposição por que, assim, a vida é mais fácil: vai sobrevivendo das migalhas que caem debaixo da faustosa mesa do poder

Mais do que em qualquer outra altura, o partido no poder, há cerca de 44 anos, anda às voltas, mas a Oposição foge do poder como o diabo foge da cruz. Se isso for verdade, seria justo que se dissolva toda a Oposição e cada um vá à sua vida porque os oprimidos querem ver outros horizontes e colocar um Ponto Final em aldrabices de uma Oposição sem visão, nem perspectivas, uma Oposição que se limita a lutar para resolver os seus problemas estomacais e para colocar os seus amigos em instituições do Estado.

A nossa Oposição é de brincadeiras que nem quer aprender como fazer uma oposição com eficácia e produtiva. Para se desculpar da sua incompetência, diz que lhe roubam votos, os órgãos eleitorais e a polícia favorecem o partido governamental. Isso é uma grande verdade, porém, falta dizer a verdade da outra face da moeda: a Frelimo continua no poder pela conta da Oposição que não trabalha nem se esforça para tomar o poder.

A nossa Oposição não trabalha o suficiente para vencer os malabaristas da Frelimo. Não vigia os processos em que participa e não se organiza em uma única frente eleitoral. Cada partido da oposição pensa que, isolados, pode afastar a Frelimo do poder e se bate para mostrar que é uma estrela.

Este nosso recado, de forma particularizada, é dirigido aos partidos da oposição parlamentar.

A Renamo e o MDM deveriam se lembrar de que a Frelimo é STAE, CNE, Conselho Constitucional e polícia. A Frelimo reveste-se da couraça do Estado. Os funcionários públicos são descontados dos seus salários para engordar as contas.

A nossa Oposição precisa de mudar a estratégia de luta. Nós defendemos uma frente única eleitoral. É muito raro, em todos os países supostos democráticos, um partido pejado de corruptos, ladrões e assassinos a triunfar de eleição em eleição. Hoje, temos o país de rasto, com uma tremenda dívida pública, sem produção suficiente para alimentar a sua população e milhões de hectares de terra ociosa por culpa de um regime político de espertos. Somos dos países mais corrupto do mundo onde ser governante é ter uma oportunidade para ficar rico sem causa e mesmo assim o partido no governo obtém vitórias eleitorais que chamam de “retumbantes, asfixiantes e convincentes”.

O povo está a precisar de uma oposição laboriosa, organizada e ambiciosa capaz de vencer a Frelimo.

A oposição que passa o tempo todo a choramingar pode entrar de férias graciosas e sair em paz.

Seria de esperar que, a estas alturas, já tivesse ocorrido uma grande cimeira entre a Renamo e MDM para fazer a concertação da estratégia de luta eleitoral, mas nada disso está a acontecer. Vemos cada partido no seu canto à espera de 15 de Outubro.

A derrota, em Outubro próximo, da Oposição não será surpresa para quem conhece a apatia dos partidos da oposição que fazem oposição.

Será uma consequência lógica de quem não almeja chegar ao poder. Preparemo-nos para voltarmos a engolir mais sapatos da moribunda Frelimo.

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 16 de Abril de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO

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