Os desabafos de Zuma
Os desabafos de Zuma – Quase duas semanas depois do terminus da sentença de quinze meses de prisão, embora exista ainda um pendente no Supremo Tribunal de Apelação, o antigo presidente, Jacob Zuma, convocou a imprensa, no passado sábado (22 de Agosto), para dizer o que lhe vai na alma. E não poupou nas palavras:
Zuma disse claramente que Cyril Ramaphosa era um empresário “corrupto e traidor”. O antigo estadista sul-africano apega-se nas declarações do actual chefe de Estado, segundo as quais ele [Ramaphosa] tem interesses no negócio de venda de animais, para considerar de abuso de poder pelo facto de “conduz negócios privados enquanto atua como presidente de nosso país”.
Zuma foi mais preciso: “Isso, por si só, é inconstitucional e aqueles que o [Ramaphosa] aplaudem por isso cometem a transgressão mais repugnante. Conduzir negócios privados enquanto ocupa o alto cargo de presidente nada mais é do que corrupção, o que é inconsistente com a natureza desse cargo e com a constituição”.
Jacob Zuma acusou as organizações da sociedade civil e a imprensa de pouco ou nada falar em torno do “farmgate”, para depois fazer uma espécie de comparação: “Muitas vezes me pergunto qual seria a situação se eu fosse o acusado de ter milhões de dólares escondidos debaixo dos colchões. Eu me pergunto o que teria acontecido se isso fosse uma alegação de Nkandla [casa de Zuma]. Não vamos fazer rodeios sobre a negligência do dever constitucional que vem com o abuso do cargo de presidente para conduzir negócios privados”, disse.
Sem que tenha sido questionado, na conferência de imprensa que teve lugar em Joanesburgo, Zuma acrescentou que “basta dizer que o Presidente [Ramaphosa] cometeu traição. Nenhum presidente deve conduzir negócios privados enquanto estiver no cargo. Os problemas de nosso país são grandes demais para um presidente que está ocupado com seus próprios trabalhos”.
De referir que o painel independente, nomeado pela presidente do parlamento, já iniciou a sua investigação, em torno do “farmgate” e deu 10 dias a Cyril Ramaphosa, contados a partir de sexta-feira (28 de Outubro) para dizer o que sabe sobre o “caso Phala Phala”. Dias antes, Ramaphosa tinha rejeitado, no parlamento, alegações de lavagem de dinheiro em torno do “farmgate”.
Também no sábado, o antigo presidente Thabo Mbeki, também, abordou a questão de “Phala Phala”, no sentido de advertir que o ANC deve discutir abertamente o assunto. “O Presidente está pressionado sobre este roubo”, disse Mbeki, que depois questionou: “O que o ANC fará se o Painel descortinar que Ramaphosa tem culpa? ”. Para Mbeki, o ANC deve, o quanto antes, traçar um plano B para o caso de ser considerado culpado.
Zuma volta a atacar Zondo
Voltando a conferência de imprensa de Zuma, este disse que ainda não recuperou totalmente a sua Liberdade, na medida em que, como disse, “a extrema direita branca” o quer de volta a prisão, numa clara alusão á contestação apresentada pela Aliança Democrática e a Fundação Helen Suzman.
Zuma foi condenado a 15 meses de prisão, pelo Tribunal Constitucional, que o acusou de desobedecer a ordens judiciais. O ex-presidente reiterou que “minha prisão veio como parte de uma longa campanha para me destituir do cargo de presidente e me punir por não ser um queridinho dos interesses comerciais que buscam lucrar às custas do nosso povo”.
Zuma insiste que Zondo nunca o deveria ter questionado, na medida em que “ele é meu amigo e familiar. No meu casamento ele esteve lá e até teve direito à palavra” disse para depois indicar que “é por isso que eu sempre defendi que ele não deveria fazer parte da comissão de inquérito que investigou a suposta captura do estado”. No entanto, Zuma acusou Zondo de fazer parte do grupo que tinha interesse em tirá-lo do poder ao afirmar que “Zondo estava continuamente a fazer declarações que sugeriam que ele já havia concluído que eu era culpado de tudo de que fui acusado”.
Zuma voltou a dizer que a ordem de o mandar à prisão o fez lembrar os tempos tenebrosos do regime segregacionista: “Isso é algo a ser desaprovado por todos nós, cidadãos amantes da paz e principalmente os patriotas, mas, é claro, sendo eu mesmo, essa ação me fez lembrar dos velhos tempos do Apartheid, onde as pessoas eram presas e mantidas na prisão sem julgamento”, acrescentou o ex-presidente.
NO MEU MANDATO TINHAMOS ACABADO COM OS APAGÕES
Sobre os temas da actualidade, Zuma escolheu a crise energética, para criticar o actual governo, liderado por Cyril Ramaphosa.
Zuma disse que o Executivo por si dirigido tinha acabado com os apagões entre 2015 e 2018 [altura em que foi obrigado a se afastar da presidência]. “A queda de carga eléctrica começou imediatamente após a conclusão de certos acordos com os Produtores Independentes de Energia” acusou Zuma para depois questionar: “Por que a liderança correta [de Ramaphosa] não consegue lidar com os problemas da Eskom? ”.
Zuma diz ser preocupante que ocorram até 3 cortes de fornecimento de energia por dia, em prejuízo dos milhares de sul africanos.
Esta aparição pública de Jacob Zuma promete fazer correr rios de tinta, nos próximos dias.
RAULINA TAIMO, Correspondente na África do Sul