Parece que Nyusi é pela guerra
Parece um paradoxo, mas, é tudo verdade. Pode, para alguns incautos, parecer uma mentira, porém, os factos desmentem os discursos, aparentemente, bem-intencionados de Filipe Nyusi, presidente do partido Frelimo que, pelos quatro cantos do país e do Mundo, diz que quer paz e reconciliação entre os moçambicanos.
Num passado recente, víamo-lo a percorrer a densa floresta e perigosa da Gorongosa para se encontrar com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a fim de, com ele, discutir os possíveis caminhos que pudessem levar, apenas, ao silêncio das armas. Por fim, assinou um acordo de paz, que chamam de paz definitiva, o que deixa a entender que os anteriores não o eram. Foram, sistematicamente, violados tendo, por isso, o país voltado a mergulhar-se em conflitos armados, em diversos momentos.
Este último acordo poderá, isso sim, ser mesmo definitivo no que diz respeito aos tiros porque a outra parte, a Renamo, vai ficando, cada vez, com menos dentes e não pela eficácia dos entendimentos porque o partido Frelimo só pode cumprir o que melhor lhe convier e não o que foi acordado. Analisando bem o curso dos acontecimentos, podemos afirmar que todas as guerras que conhecemos, no país, depois do acordo geral da paz, 1992, foram provocadas pelo partido no poder. O povo sofreu as consequências de uma guerra injusta por ambição de um grupo de indivíduos.
Estamos convencidos de que estas eleições de 15 de Outubro não serão do advento do clima de paz e reconciliação porque as coisas, a partir pelo recenseamento eleitoral, começaram mal. Quando se parte de premissas erradas, não pode haver dúvidas de que se vai chegar à conclusão errada. A província de Gaza ganhou 329 mil eleitores fantasmas para que a balança possa pender para o partido governamental, adiantando no tempo em mais 20 anos, quer dizer, Gaza teria esse número de eleitores apenas em 2040. Portanto, não poderão ser eleições fraudulentas que irão resolver a problemática da paz e reconciliação. A opulência e ganância com que o partido no poder se apresenta, facilmente, se pode dizer que continuaremos a ter um Partido-Estado que tudo abocanha e a todos discrimina, aliás, como tem sido sua prática desde a independência.
A pobreza, o roubo de bens públicos e a corrupção ganharão maior ímpeto. O desemprego, desflorestamento e o saque das riquezas nacionais – do solo e subsolo -aprofundar-se-ão cada vez mais. A existência de tantos recursos como minerais, uma das maiores centrais de geração de corrente eléctrica, milhões de hectares de terra arável, mais de 60 rios de curso permanente de água, o povo continua no matope da pobreza como, também, constatou o Santo Padre Francisco.
A pobreza que nos envolve não é nenhuma fatalidade do destino, mas, resulta das políticas a que fomos sujeitos desde 1975, ano da independência nacional. O povo pode inverter este triste cenário. Deus não condenou os pobres a permanecerem na pobreza e os ricos a ficarem cada vez mais ricos. Nós podemos mudar o nosso destino, bastando, para tal, não votar naqueles que nos estão enterrando na pobreza. Se todos não votarmos naqueles que, amanhã, virarão os canos das armas contra o povo. Se não votarmos nos patrões dos esquadrões da morte, naqueles que foram fazer “fiado” em nosso nome sem mandato, podemos nos libertar da carraça que nos suga.
O ataque das forças governamentais à base dos guerrilheiros da Junta Militar da Renamo, em Chipindaúmwe, Distrito de Gondola na província de Manica, é um prelúdio de dias difíceis por que o povo terá que passar. Nyusi provou que os problemas do país têm que ser resolvidos pelas armas. A cisão ou desentendimento no seio da Renamo é um problema que só a Renamo diz respeito. A invasão da base pelas forças do governo constitui uma ingerência nos assuntos internos da Renamo. Nyusi deitou petróleo à fogueira para sangue de inocentes continue a ser derramado em vão.
A opção militar em questões triviais tem sido o forte de Nyusi, o homem que clama pela paz. As nossas memorias ainda estão frescas dos raptos e assassinatos protagonizados pelos esquadrões da morte. Ainda nos lembramos dos políticos que desapareceram, para sempre, do convívio dos seus familiares, raptados e assassinados pelos esquadrões da morte. As valas comuns não são nenhuma estória para adormecer as crianças. Centenas de nossos compatriotas foram mortos e jogados em valas comum, com destaque em Manica e Sofala. O perigoso cerco à residência de Afonso Dhlakama, na Beira, é a expressão das dificuldades que Nyusi tem em aceitar a diferença.
Não se pode acreditar que Nyusi é pela paz e reconciliação depois do que mandou fazer em Gaza. É certo que, caso a oposição não aceite os resultados, os esquadrões da morte serão reactivados para eliminarem os opositores do regime. Outros horrores bater-nos-ão à porta para que ninguém reclame sobre as tais vitórias “asfixiantes” da Frelimo. Frelimo significa guerra, roubo, calote, violência, corrupção e discriminação.
Não se pode acreditar que Nyusi seja pela paz e reconciliação.
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 26 de Setembro de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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