Pelo fim do uso excessivo da força
Escrevemos esta carta em nome de milhares de moçambicanos que acreditam na importância do Estado de Direito, na justiça social e na protecção dos direitos humanos. Reconhecemos o papel vital da Polícia da República de Moçambique (PRM) na preservação da ordem pública e na garantia da segurança de todos os cidadãos.
No entanto, é com grande preocupação e indignação que observamos o crescente uso desproporcional da força por parte dos vossos agentes em diversas situações.
Nos últimos tempos, incidentes de repressão violenta contra manifestantes pacíficos, abusos de autoridade e tratamento degradante de cidadãos em situações cotidianas tornaram-se mais frequentes. Estes actos não apenas desrespeitam os direitos fundamentais garantidos pela Constituição de Moçambique, mas também minam a confiança da população na instituição que deveria protegê-la.
A actuação policial deve ser guiada pelos princípios da proporcionalidade, legalidade e humanidade. Quando a força é usada de forma desmedida, ela perde a sua legitimidade e transforma-se em um instrumento de opressão. O uso excessivo da força para dispersar manifestações, prender cidadãos ou controlar situações de conflito não faz parte de uma actuação policial profissional, mas sim de uma abordagem que prioriza a intimidação e a violência em vez do diálogo e da mediação.
É especialmente alarmante o facto de que, muitas vezes, estas acções são direccionadas a grupos vulneráveis – jovens, activistas de direitos humanos, jornalistas e manifestantes que exercem o seu direito constitucional de expressar-se. O direito à liberdade de expressão e à manifestação pacífica são pilares de qualquer sociedade democrática. Quando a Polícia actua de forma a suprimir essas vozes, estamos, de facto, corroendo os fundamentos do nosso Estado Democrático de Direito.
A resposta a protestos pacíficos com balas de borracha, gás lacrimogéneo, prisões arbitrárias e espancamentos não apenas desumaniza a relação entre o Estado e o cidadão, mas também gera uma espiral de descontentamento e desconfiança que, ao invés de resolver os problemas, agrava-os.
Pedimos que a PRM reveja urgentemente as suas práticas operacionais e o treinamento dos seus agentes, de forma a garantir que a força seja usada apenas como último recurso, em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos. A implementação de mecanismos de responsabilização internos e externos para investigar abusos cometidos por agentes de segurança é igualmente necessária para restabelecer a confiança da população na Polícia.
Moçambique necessita de uma Polícia que proteja os seus cidadãos, que seja vista como uma força de ordem, mas também de justiça e de respeito aos direitos humanos. Não podemos tolerar uma instituição que, ao invés de garantir segurança, inspire medo e violência.
Convidamos a PRM a iniciar um processo de transformação interna, para que se torne uma verdadeira força de paz e não de opressão. O futuro do nosso país depende da capacidade dos seus órgãos de segurança actuarem em consonância com os princípios democráticos e os direitos fundamentais de todos os cidadãos.
O uso desproporcional da força demonstra uma falha no treinamento policial, na ética profissional e no respeito à dignidade humana. Em vez de proteger a população, a PRM, em muitos casos, tem sido vista como um agente de medo e repressão. Esta conduta, além de ser moralmente condenável, enfraquece a credibilidade do Estado e alimenta a insatisfação social, ampliando a divisão entre governantes e governados.
Exigimos que a PRM reveja as suas práticas operacionais e adopte uma postura que priorize o diálogo e a negociação em situações de conflito, que respeite os direitos constitucionais dos cidadãos e que os excessos sejam punidos de acordo com a lei. Além disso, é essencial que haja transparência na prestação de contas por parte dos agentes envolvidos em abusos e que sejam implementadas medidas de formação contínua que enfatizem a protecção dos direitos humanos.
Uma polícia que se preza deve ser sinónimo de justiça, equilíbrio e respeito às normas democráticas. A actuação desproporcional e o uso indiscriminado da força devem ser imediatamente combatidos para que possamos construir um país onde a ordem não seja imposta pela violência, mas pelo respeito mútuo e pela aplicação justa das leis.
Cidadãos de Moçambique que acreditam na justiça, na paz e na democracia
Atenciosamente,
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
(Cidadão Moçambicano)
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 18 de Outubro de 2024.
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