Privinvest oferecia as melhores

Privinvest oferecia  – O antigo dirigente dos serviços secretos moçambicanos António Carlos do Rosário enfatiza que a Privinvest, acusada de pagar subornos com o dinheiro das dívidas ocultas, oferecia as melhores soluções de proteção costeira, num projecto que daria lucro num ano.

“O que nós queríamos era transferir tecnologia [de equipamentos de proteção costeira], não era meramente comprar meios”, afirmou.

Rosário falava esta quinta-feira como arguido, quando era interrogado pelo Ministério Público no julgamento do processo principal das dívidas ocultas.

O Grupo Privinvest, com sede em Abu Dhabi, foi escolhido para a implementação do projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva porque aceitou vender barcos e equipamento, fazer transferência de tecnologia e montagem de estaleiros navais, disse o antigo director da Inteligência Económica dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE).

“Moçambique estaria a ombrear com os ‘big players`'[grandes atores] na indústria naval. Um ano era suficiente para recuperar o investimento e operar no lucro”, declarou.

António Carlos do Rosário afirmou que ouviu falar de Iskandar Safa, dono do Grupo Privinvest, entre 2002 e 2003, durante encontros em Abu Dhabi com os serviços secretos dos Emiratos Árabes Unidos (EAU) e através de pesquisas.

Nessas diligências, o arguido afirmou que manifestou interesse em contactar Safa para uma colaboração com o Estado moçambicano na área de proteção costeira.

Os contactos não avançaram na altura, porque o empresário e a Privinvest não se manifestaram durante vários anos, acrescentou.

António Carlos do Rosário tomou conhecimento, entre 2010 e 2011, que o Grupo Privinvest estava interessado em cooperar com Moçambique, o que culminou com encontros com Jean Boustani, representante da empresa e acusado pela justiça moçambicana de ter ordenado o pagamento de subornos do dinheiro das dívidas ocultas.

O arguido avançou que realizou visitas aos estaleiros daquele grupo na Alemanha e em Abu Dhabi para se certificar das capacidades da companhia no setor naval.

Rosário referiu que o sequestro de um barco de pesca por piratas somalis ao largo da costa moçambicana em dezembro de 2010 intensificou as preocupações das autoridades moçambicanas em relação à segurança marítima do país.

O incidente aconteceu numa altura em que eram anunciadas as primeiras descobertas de grandes reservas de gás natural na bacia do Rovuma, recordou.

“Depois do ataque [de dezembro de 2010] mudámos as prioridades, porque era o momento de arregaçar as mangas e correr, porque fomos apanhados de surpresa, significa que estamos frágeis”, afirmou.

Para o SISE, era um assalto e ataque à integridade territorial e à soberania de Moçambique, não apenas um ato de pirataria.

As ameaças à Zona Económica Exclusiva levaram o Governo a mandatar o SISE para a elaboração de estudos visando a identificação de soluções, observou o antigo director da Inteligência Económica da secreta.

“Depois da decisão de que tínhamos de encontrar soluções, criou-se uma equipa técnica da qual eu fui o chefe”, frisou.

Questionado pelo Ministério Público sobre o paradeiro dos estudos sobre a proteção da Zona Económica Exclusiva, uma vez que não foram anexados aos autos, António Carlos do Rosário disse que os documentos são propriedade do SISE.

Cabe ao SISE, continuou, decidir se pode ou não ceder os referidos estudos, tendo em conta o caráter “classificado” de matérias geridas pelos serviços secretos.

António Carlos do Rosário afirmou que o projecto de proteção da Zona Económica Exclusiva foi aprovado pelos comandos conjunto e operativo das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em que tinham assento o então Presidente da República Armando Guebuza e o seu sucessor, Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa.

A justiça moçambicana considera que o projecto de proteção costeira foi o pretexto encontrado pelos arguidos das dívidas ocultas para a mobilização dos empréstimos. (Privinvest oferecia)

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