Processo de Rivónia
Processo de Rivónia – Faleceu nesta quarta-feira, Andrew Mlangeni, último réu sobrevivo do célebre Processo de Rivónia de Outubro de 1963 a Junho de 1964 que culminou com a condenação de Nelson Mandela a prisão perpétua pelo regime racista minoritário do apartheid.
Andrew Mlangeni, 95 anos, estava internado no Hospital Militar de Pretória, oficialmente por causa de dores de estômago.
Assim, todos os mais de 10 réus, líderes do ANC, no Processo de Rivónia, incluindo Nelson Mandela e Govan Mbeki morreram.
Foram detidos quando estavam reunidos numa quinta-residência no bairro de Rivónia, perto de Sandton, em Joanesburgo, acusados, julgados e condenados à prisão por tentativa de derrubar o regime do apartheid através de violência armada, liderada por Nelson Mandela.
Segundo a biografia de Andrew Mlangeni publicada em 2017 com o título “Backroom Boy” – rapaz do quarto da traz, Nelson Mandela seleccionou-lhe para se juntar a outros cinco homens no primeiro grupo de activistas sul-africanos enviados a China para treinos de guerrilha contra o regime racista do apartheid.
Os treinos incluíam produção de bombas, armadilhas e técnicas de comunicação secreta. Andrew regressou a África do Sul em 1963 e tornou-se membro de Alto Comando da ala armada do Congresso Nacional Africano (ANC), “Umkhonto we Sizwe”, liderado por Nelson Mandela.
Disfarçado de pastor, Andrew Mlangeni viajou em toda a África do Sul, recrutando jovens para treinos militares no estrangeiro até à sua detenção, julgamento e condenação à prisão perpétua.
Mlangeni cumpriu 26 anos de prisão perpétua juntamente com Nelson Mandela, na Ilha de Roben e Pollsmoor, província do Cabo Ocidental.
Depois da sua libertação em 1989 tornou-se membro do novo parlamento democrático sul-africano durante duas décadas e viveu sempre no Soweto, bairro histórico-político nos arredores de Joanesburgo até à sua morte nesta quarta-feira vítima de doença.
Um comunicado da Fundação Nelson Mandela diz que “outra árvore grande caiu na floresta” e acrescenta que Andrew Mlangeni foi um combatente que nunca esperou receber algo em retorno da sua dedicação à causa do povo e até recusava boleia de carro para um evento, dizendo sempre “sabe, vou chegar lá”.
Segundo a Fundação Nelson Mandela, Mlangeni foi homem de princípios éticos de consciência destemida até para o seu próprio partido no poder, ANC.
No seu aniversário de 94 anos disse que “não lutou para pessoas roubarem dos pobres”.
O comunicado termina dizendo que Andrew Mlangeni foi daqueles que Nelson Mandela chamava de “grandes patriotas”.
THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE do Correio da manhã de Moçambique NA ÁFRICA DO SUL