Quem ameaça a paz?
Paz – Filipe Nyusi, presidente do partido Frelimo, disse, na terceira sessão do Comité Central, que o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração das forças residuais da Renamo estava lento demais e gostaria que o país fosse às eleições, de 15 de Outubro próximo, sem armas. Nyusi transmitiu uma falsa ideia de que as armas da Renamo são uma ameaça à paz. Porém, a prática prova que a Renamo, desde o fim do conflito armado em 1994, todas as iniciativas do reacender da guerra partiram da Frelimo, de Armando Guebuza e do próprio Filipe Nyusi. Estes foram os únicos responsáveis pelas mortes de inocentes depois do acordo de Roma, assinado pelo Governo de Joaquim Chissano e Renamo. É uma aldrabice dizer que as armas da Renamo são um perigo à paz porque a Renamo só a elas se socorre em legítima defesa. As armas da Renamo ameaçam a Frelimo e não o povo que anda desapontado com os governos frelimistas.
O presidente do partido Frelimo está a encetar fuga para frente porque falta, evidentemente, à verdade, na esperança de, desse modo, enganar a opinião pública. Quem, de facto, ameaça a paz é o partido Frelimo, através da sua fórmula mágica e fraudulenta que lhe permite vencer as eleições mesmo não suficientemente votado. Os órgãos eleitorais, designadamente, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a polícia, os tribunais distritais e o Conselho Constitucional são os grandes promotores da discórdia e da guerra.
Ninguém tem dúvidas sobre o papel maléfico desempenhado por estas instituições no sentido de inverter a vontade do povo expressa nas urnas. Quem age contra o povo é a Frelimo que, de maneira reiterada coloca a paz em plano inclinado. É isso que assistimos desde que o país abraçou o sistema multipartidário. Portanto, reduzir a paz ao simples desarmamento da Renamo é enganar os outros porque a paz não se circunscreve, apenas, no silêncio das armas.
A corrupção galopante que enriquece um punhado de dirigentes do partido no poder e aos seus acólitos e empobrece a maioria do povo constitui uma ameaça à paz. A guerra que, no futuro, assistiremos terá protagonistas os pobres contra os que ficaram ricos com base em roubos de fundos e bens públicos. Será dos que, sistematicamente, declarados vencidos contra os espertos que triunfam com recurso a truques e violência policial. São inaceitáveis as vitórias eleitorais daquelas que aconteceram nas eleições autárquicas de Novembro de 2018, na Matola, Monapo, Moatize, Marromeu, Ribaué e Gurué, por serem um grave atentado à democracia.
Se Nyusi quer uma paz duradoura, tem que desarmar, antes de tudo, o seu partido para se abster de fraudes a fim de se perpetuar no poder. De nada vale desarmar a Renamo sem combater as causas que provocam a insatisfação popular, como a corrupção e as fraudes eleitorais. O partido Frelimo não tem nenhuma margem de dúvidas de que está no poder ilegitimamente.
Nyusi tem que ter coragem suficiente para dizer aos seus camaradas que, em democracia, governa quem for eleito e não o mais esperto. Enquanto não houver uma profunda reflexão para dentro, o desarmamento da Renamo não servirá para nada.
Os processos eleitorais e o combate à corrupção têm que ser levados a sério porque a continuar como estamos o país pode voltar a arder. O recenseamento em curso mostra a megafraude que o partido Frelimo está a organizar. As cifras alcançadas pela província de Gaza traduzem que o partido Frelimo está a preparar uma fraude de grande magnitude.
Paz, no nosso país, chama-se desenvolvimento inclusivo, combate cerrado contra a corrupção, eleições livres, justas e transparentes, sem violência policial nem truques dos órgãos eleitorais. O novo nome da paz é justiça social que é diferente do simples silêncio das armas.
A paz não se circunscreve no desarmamento das forças da Renamo.
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 16 de Maio de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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