Quo vadis RENAMO

Quo vadis RENAMO – Com a morte do presidente da RENAMO, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, depois de dirigir por aproximadamente 40 anos a organização, era expectável que a sua substituição fosse rodeada de alguns solavancos.

Efetivamente, não é fácil substituir um vulto de autoridade, prestígio e carisma como Dhlakama. Como ele não haverá igual, mesmo que custe “engolir” esta realidade, tanto para os de dentro, como para os de fora (da RENAMO).

Aparentemente, a “solução interina” terá sido bem conseguida, o que já não se pode dizer da “solução definitiva”, saída do congresso realizado na serra da Gorongosa em meados de Janeiro deste 2019.

Em menos de um mês de exercício, o actual líder da RENAMO, Ossufo Momade,

está a encontrar cavadas dificuldades de manter a coesão no seio do oficialmente considerado segundo partido mais popular de Moçambique.

Lá do “mato” Ossufo Momade tenta imitar Dhlakama, mas, como é óbvio, não encontra a mesma correspondência de [quase] todos os militantes da RENAMO, porque, como justifica o brigadeiro Jerónimo Malagueta, para além do carisma e prestígio de que gozava o primogénito de régulo de Mangunde, os seguidores da perdiz também tinham medo do falecido líder.

“[Os que hoje contestam as decisões emanadas por Ossufo Momade] estão a mostrar que no tempo do presidente Dhlakama cumpriam tudo por medo”, assim se terá pronunciado Malagueta, citado pelo jornal Diário de Moçambique (de 12 de Fevereiro de 2019, na sua pág. 2).

Mas a odisseia n/da RENAMO não parece se limitar ao “caso da Beira” e pode resvalar para uma cisão, caso não haja capacidade e inteligência para gerir rápida e devidamente a situação que alguns vão tentar minimizar, alegando tratar-se de “fase de crescimento” da organização.

Aparentemente, o general Ossufo terá pecado por “retaliar” contra alguns apoiantes declarados do seu mais directo concorrente a presidência da RENAMO, Elias Dhlakama, não obstante aquele seu discurso de investidura depois da reunião magna do partido na serra da Gorongsa.

Parece ter sido desastrosa preterir alguns quadros políticos sonantes da Comissão Política da RENAMO, por exemplo, incluindo a actual chefe da bancada parlamentar, gesto que pode representar um verdadeiro haraquiri (mas desta sem honra) do Ossufo e/ou o abrir de uma porta para o surgimento de um novo partido, numa altura em que os moçambicanos clamam por uma oposição mais organizada e forte, capaz de ombrear com mestria com uma Frelimo organizada e forte, mesmo nos momentos mais baixos da sua trajectória política.

Debruçando-se sobre os mais recentes acontecimentos políticos à escala nacional, facilmente se compreende a convicção de alguns quadros séniores da Frelimo de que é este partido que governará Moçambique por muitos anos ainda.

Efetivamente, a manhosa Frelimo há muito leu os sinais organizacionais dos seus mais directos concorrentes e concluiu que está a jogar sozinha na praça política doméstica.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 15 de Fevereiro de 2019, na rubrica semanal denominada TIKU 15 !

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