O troféu da bala perdida
Em Moçambique, há uma tradição peculiar: quem dispara o primeiro tiro ganha medalha. Foi assim com aquele senhor que, no calor de Cabo Delgado, abriu alas para a dança da pólvora e, como recompensa, entrou para os anais da história como herói nacional. Ele disparou o primeiro tiro e se orgulha por isso.
Mas a história, como sabemos, tem um senso de humor duvidoso. E agora, no dia 21 de Outubro de 2024, um novo “atirador de elite da discórdia” reivindicou seu lugar ao sol. Com um dedo no gatilho e outro na incerteza, lá foi ele, abrindo caminho para o que se tornaria uma marcha fúnebre nacional. A pergunta que não quer calar: qual será o seu prêmio?
Uma estátua na praça? Talvez, mas estatísticas mostram que estátuas correm o risco de virar alvo de pombos e protestos. Uma medalha de ouro? Difícil, o orçamento anda curto, e o metal está sendo usado para outros “investimentos estratégicos”. Um feriado nacional em sua homenagem? Pouco provável, já temos dias suficientes para lembrar tragédias.
O mais provável mesmo é que ele receba o “Troféu da Bala Perdida”, entregue em uma cerimônia discreta, de preferência longe da opinião pública. Junto, um certificado de participação, um aperto de mão e uma recomendação para evitar locais movimentados porque a história tem um jeito engraçado de dar voltas, e heróis de hoje podem ser vilões de amanhã.
Mas, no fim das contas, há uma certeza: quando se abre fogo contra o próprio povo, o único prêmio garantido é um lugar de destaque… nos livros de história e na memória coletiva daqueles que nunca esquecerão.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA