Raul Domingos comenta

O ex-chefe dos negociadores da Renamo nas conversações para o Acordo Geral de Paz de 1992, Raul Domingos, disse que há forças contrárias ao diálogo para a paz nos dois principais partidos moçambicanos.

“Há forças contrárias às negociações de paz, tanto dentro da Frelimo como na Renamo. É importante que a sociedade civil moçambicana e, sobretudo, os próprios partidos denunciem e isolem essas correntes”, afirmou Raul Domingos.

Aquele dirigente, expulso da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em 2000 após divergências com o líder do partido, Afonso Dhlakama, referiu-se às ameaças à paz no país, quando comentava o encontro entre o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder do principal partido da oposição.

Encontro entre Nyusi e Dhlakama
Encontro entre Nyusi e Dhlakama

Para Raul Domingos, no partido Frelimo, partido no poder, há uma ala que aposta na via militar, acreditando na eliminação física de Afonso Dhlakama como forma de acabar com a concorrência na luta pelo poder nas eleições e assegurar a manutenção do monopólio dos recursos do Estado.

“As várias tentativas de assassinato de Afonso Dhlakama contra as promessas do chefe de Estado de que o diálogo era a aposta para acabar com a instabilidade demonstra a existência de um sector no partido Frelimo que acredita no triunfo militar”, assinalou Raul Domingos, que chegou a ser considerado “número dois” de Afonso Dhlakama.

Na Renamo, prosseguiu, há também alas que entendem que a via militar é a única forma de acabar com a arrogância da Frelimo.

“Quanto o diálogo com a Frelimo corre mal, quando há situações desfavoráveis e quando os resultados eleitorais são manipulados, há generais na Renamo que dizem que com a Frelimo só através de uma vitória militar”, declarou o político, que preside actualmente ao Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), sem representação parlamentar.

Raul Domingos recordou que durante as discussões sobre a participação da Renamo nas negociações que levaram ao Acordo Geral de Paz em 1992 houve “generais” do partido que eram contra o diálogo, defendendo que era possível vencer a guerra.

O ex-chefe da equipa negocial da Renamo congratulou-se com o encontro no domingo entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, assinalando que o mesmo serviu para gerar confiança para que até ao final do ano em curso haja uma resolução dos diferendos por detrás da instabilidade política e militar em Moçambique.

“O encontro foi um passo importante na direção certa. Definiu claramente a vontade dos dois líderes de encontrarem uma solução tão cedo quanto antes para os contenciosos ainda pendentes”, acrescentou.

Encontro Nyusi e Dhlakama na Gorongosa
Encontro Nyusi e Dhlakama na Gorongosa

Na qualidade de um dos quadros mais importantes da Renamo, Raul Domingos chefiou a delegação do movimento nas negociações que levaram à assinatura do Acordo Geral de Paz com o Governo da Frelimo, em 1992.

Nas primeiras eleições gerais e multipartidárias em Moçambique, em 1994, Raul Domingos chefiou a bancada da Renamo até ser expulso do partido em 2000, na sequência de divergências com Afonso Dhlakama, no contexto da recusa do partido em reconhecer a derrota nas eleições gerais de 1999.

O Presidente moçambicano e o líder da Renamo encontraram-se domingo, em reunião não anunciada previamente, na serra da Gorongosa, centro de Moçambique, para dar impulso às negociações para a restauração da estabilidade política.

Apesar do Acordo Geral de Paz de 1992, Moçambique tem conhecido surtos de violência politica e militar desencadeados pela recusa da Renamo em reconhecer a vitória da Frelimo nas eleições.

Lusa & Redacção

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