Raul Domingos já espalha perfume diplomático no Vaticano
Raul Domingos, embaixador de Moçambique no Vaticano, já está a espalhar o seu “perfume diplomático” a partir de Roma e a media italiana faz manchete com esse exercício.
Em menos de uma semana de exercício formal como embaixador de Moçambique no Vaticano, Raul Manuel Domingos fez comentários que pela actualidade estão a merecer destaque na imprensa da Itália. Ele comentou que o dossier da paz no país africano pode servir de modelo para outros conflitos em curso, incluindo o que se desenrola na Ucrânia, “e noutras partes do mundo”.
Raul Domingos fez esta avaliação no decurso de um encontro que manteve com o actual Cardeal e Arcebispo de Bolonha, igualmente Presidente da Conferência Episcopal da Itália, Dom Matteo Maria Zuppi.
O político moçambicano e o prelado italiano, velhos amigos que se conheceram nas décadas de 80/90 do século passado, quando ambos participaram nas longas negociações que culminaram com a assinatura do Acordo Geral de Paz para Moçambique, em Roma, no dia 04 de Outubro de 1992.
Raul Domingos era, nesse esforço, negociador chefe da delegação da Resistencia Nacional Moçambicana (RENAMO) que durante 16 anos (1976/1992) tentou derrotar por via armada o regime de inspiração marxista-leninista instalado em Moçambique em 1975 pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
Nessa altura, Dom Matteo Zuppi, destacado membro da Comunidade de Sant’Egidio, era pivô central no processo em que o governo da Frelimo era representado por uma comitiva liderada por Armando Emílio Guebuza, antigo Presidente da República de Moçambique (2005/2015).
“A paz não é fácil, a paz é difícil, mas com a experiência que temos em Moçambique podemos provar que a paz é possível. Então o que foi possível em Moçambique pode ser possível hoje para a Ucrânia e para outros países do mundo”, disse Raul Domingos, durante o encontro com Dom Matteo Zuppi, no Santuário de San Luca.
A imprensa italiana fez enorme eco das palavras do embaixador de Moçambique junto da Santa Sé.
Raul Domingos é ainda referenciado a fazer rasgados elogios ao impacto da visita do Santo Padre a Maputo em 2019.
“O Papa Francisco é um homem que transmite mensagens de paz”, salientou o homem que chegou a ser considerado o “número dois da RENAMO”, organização da qual foi expulso em 7 de Julho de 2000, na esteira de um mal-entendido com o então líder deste partido, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, morto em Maio de 2018, oficialmente vítima de doença.
Raul Domingos é o primeiro político da oposição moçambicana a ser nomeado embaixador do país africano. Apresentou formalmente as suas Cartas Credenciais ao Papa Francisco em audiência solene realizada no Vaticano, no dia seis deste Março.
Segundo a media italiana, as acções armadas brutais que ocorrem no Norte de Moçambique foram igualmente tema de conversa entre Domingos e Zuppi
“O terrorismo é um problema internacional e nós, tendo isso bem claro, procuramos apoio a nível internacional. Neste momento, contamos com as forças da SADC, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, e com o apoio do Ruanda e da União Europeia. Continuamos a acreditar que este mal pode ser erradicado de Moçambique com o apoio de todos”, referiu Raul Domingos.
Refira-se que Papa Francisco expressou “grande satisfação” pela decisão de Moçambique de abrir uma missão diplomática permanente junto com a Santa Sé.
“Isso permitirá que a relação entre meu país e o Vaticano seja mais próxima, mais forte e mais intensa”, comentou o Sumo Pontífice.
Pelo papel que desempenhou durante os vinte e sete meses que duraram as conversações entre a comitiva do Governo de Moçambique e da RENAMO, Dom Matteo Zuppi foi atribuído pelos actuais governantes moçambicanos o estatuto de cidadão honorário do país africano que se tornou independente de Portugal no dia 25 de Junho de 1975.
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