Raul Domingos: RENAMO

O antigo “número dois” da “perdiz”, Raul Domingos, diz estar “disponível para contribuir para o sucesso da Renamo”, partido do qual foi expulso em Julho de 2000.

Em entrevista ao jornal Correio da manhã, o segundo oficial militar mais graduado da RENAMO (Major-General) até ao final da guerra civil em Moçambique (1976/1992) revelou que a aproximação para um entendimento com o falecido Afonso Dhlakama começou em 2012, em Quelimane, capital da província da Zambézia.

Raul Domingos disse que os contactos deveriam ter prosseguido em Nampula, capital da província do mesmo nome, onde Dhlakama entretanto residia, mas a partida deste para se estabelecer em Sadjundjira começou a dificultar o esforço.

Mesmo assim, prosseguiu a nossa fonte, com o patrocínio do Netherlands Institute for Multiparty Democracy (NIMD) tentou ir ao encontro de Dhlakama em Sadjundjira, mas tal ficou inviabilizado quando as tropas governamentais atacaram a residência do líder da RENAMO aqui instalada.

Daí em diante, com a sucessão de episódios atentatórios à integridade física do presidente da RENAMO até à sua morte na Serra da Gorongosa se tornou difícil estabelecermos contactos profundos”, disse Raul Domingos.

“Outro sinal de abertura do presidente Dhlakama para uma reconciliação entre ambos foi aquando da assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades em Maputo, a 05 de Setembro de 2014. Apesar da morte do meu pai ele [Dhlakama] fez questão que encontrasse espaço para testemunhar o acto na minha capacidade de negociador chefe do Acordo Geral de Paz de Roma, porque o presidente Dhlakama via naquela cerimónia a continuação do processo mal implementado dos compromissos estabelecidos na capital italiana”, recordou, com alguma emoção, Raul Domingos.

Nível de disponibilidade

Sobre o alcance da sua “disponibilidade para contribuir para o sucesso da Renamo” Raul Domingos referiu “todas as opções podem estar em cima da mesa. O que importa é honrar a figura do presidente Afonso Dhlakama levando a RENAMO ao poder”.

Raul Domingos (de óculos escuros) durante a assinatura do AGP em Roma em 1992
Raul Domingos (de óculos escuros) durante a assinatura do AGP em Roma em 1992

“Se em algum momento entre os que deram e dão o seu saber, energia suor e sangue em prol da RENAMO existiram filhos e enteados, hoje, somos todos órfãos e o que nos resta para levar o barco a bom porto é unir esforços”, prosseguiu o homem que à data do fim da guerra civil para além de negociador-chefe da “perdiz” era o comandante da guerrilha na região sul de Moçambique (do Rio Save até Catuane, junto à fronteira com a vizinha África do Sul).

“Não guardo rancor por tudo aquilo que aconteceu em 2000 porque mais tarde tanto eu como o presidente Dhlakama compreendemos que foi resultado de uma cilada bem engendrada pelos nossos adversários para nos fragilizar”, sintetizou o homem que durante 20 anos trabalhou com Dhlakama.

Sobre se terá desencadeado alguma iniciativa de aproximação aos seus antigos colegas depois da morte de Dhlakama Raul Domingos foi evasivo na resposta, limitando-se a afirmar que “falo com políticos e militares da RENAMO no activo e na reserva. Nunca virei costas ao partido que servi por vinte anos”.

“Não vou mencionar nomes mas como deve saber estive nas cerimónias de velório aos restos mortais do Presidente [Dhlakama, na Beira] e do seu enterro em Mangunde [Chibabava]. Os que participaram na luta pela democracia convivem muito bem comigo. Fomos companheiros de armas e em termos de doutrina não temos nenhuma clivagem”, sublinhou o nosso entrevistado.

Depois do seu afastamento da RENAMO Raul Domingos, de 60 anos de idade, criou o Partido para a Paz Democracia e Desenvolvimento (PDD), uma organização que nos seus primórdios se mostrava muito organizado, chegando a aglutinar um considerável número de seguidores, incluindo intelectuais e entusiastas da nova geração de políticos desiludidos com a Frelimo e com a “perdiz”.

A primeira vez que que o PDD se apresentou ao eleitorado, de um total de 3.321.926 eleitores obteve 60.758 votos, o equivalente a dois por cento, insuficiente para eleger um único deputado sequer para a Assembleia da República (250 parlamentares).

Nesse mesmo pleito o próprio Raul Domingo recolheu 85.815 votos (2.73%), ocupando desta forma a terceira posição, depois de Armando Guebuza (63,74) e Afonso Dhlakama (31,74%), segundo resultados oficiais.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 14 de Junho de 2018.

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