O “pacientado” — Por CÉSAR NHALIGINGA

Havia um homem de consciência madura e comunicativo para com seus amigos e demais companheiros. Fez-se de surdo durante “quarenta anos” para manter firme o seu lar que construiu com profissionalismo.

Pai de filhos, adultos e estudiosos, cresceram dando maior atenção a disposição do seu parente alegando que este era surdo, quando fazia propositadamente para evitar conflitos com sua querida esposa.

O filho mais novo era usado como mensageiro, afinal este era extrovertido e mais comunicativo, para além da inocência no fingimento do seu Pai.

Certo dia, recebem hóspedes em sua casa, por seu turno, este não podia abandonar o hábito de adoentado, que para o ver de todos o homem por vezes colocava algodão nos ouvidos para não fracassar em seus planos. Não tardou, os dias foram passando naturalmente, os convívios no seu quintal eram habituais, tal que dentre os visitantes estava lá o “amante da sua esposa”, o que levou o homem a trancar-se no quarto para evitar o pior, tal que ficaria furioso conviver junto de quem o tirasse parte do seu ser, como senão bastasse, no seu próprio quintal.

Filho, filho sirva cadeira aos tios, gritou a mãe, enquanto isso informa seu irmão para dar água para estes lavarem as mãos que o almoço está pronto. Rematou a senhora dona da casa.

O homem do quarto, conseguia ouvir tudo o que se falava, mas este evitava reacções adversas para não ferir a sua personalidade. Era chamado de “homem falhado”, não só pela vizinhança, como pelos outros que na sua casa frequentavam. Posicionou o seu telefone em local estratégico, com maior facilidade, a casa era de material precário e foi gravando toda conversa que decorria durante o convívio.

Pai venha comer, disse o filho mais novo. Este agradeceu pelo gesto e não abandonou a sua cama, afinal tinha objectivo para com o distanciamento que deu naquela data. Parte dos hóspedes abandonaram o local, era tarde, mas diante a residência ficou o “fulano” que não deu a perceber que o proprietário da residência estava “instalado” em seu quarto à espreita todo movimento.

Fluía a conversa junto com a “amante”, esposa do fingido, mas este não se agitava para ter mais detalhes do que lhe haviam soprado com seus amigos.

De tanto cansar de ouvir palavrões entre “os pombos” do lado de fora, fez mensagem para seu primogénito para saber com quem na verdade a sua mãe conversava que parecia ter o esquecido, este responde com firmeza que não conhece e tratava-se de um homem estranho.

 – Ok, pode ir, disse o pai ao filho, mas antes peço um copo com água, preciso matar a minha sede.

Retirou o seu telefone do local onde guardara para a devida gravação e automaticamente salvou as conversas na nuvem para que a sua esposa mesmo mexendo não conseguisse descobrir, bem que esta não o desconfiava.

Quando a esposa chegou ao quarto, quis saber se estava tudo bem com ela e qual foi a razão da demora, respondeu sabiamente a mulher que “estava a gerir alguns assuntos de xitique” e pretendia fazer parte do mesmo. O homem não se agitou, fingiu estar tudo bem, quando desenhava um plano para demostrar a ele que tinha conhecimento de tudo o que acontecia.

Não tardou, o homem chamou os filhos para junto da esposa desenharem um plano sobre uma sentada familiar, tal que aconteceu, marcaram na mesma uma data que estivesse a disposição seus padrinhos e irmãos do casal para com eles passassem o dia, o que nunca tivera acontecido. A esposa fora do plano do seu marido, não imaginava o que viria suceder no dia do encontro, “pânico na família”.

Chegado o dia, os convidados fizeram-se presente à casa da família, estes já em conversa, desfrutando das iguarias preparadas, os que bebiam o fizeram sem receio, mesmo sem saber o que se comemorava.

O fingido sai do quarto acompanhado de seu filho que tanto insistia em saber a razão dos convidados estarem entre eles, mas este apenas respondeu “prepara-te filho que hoje a verdade vai cair”.

Chegado à mesa, perguntou aos convidados se estavam satisfeitos com o chamamento.

Não há dúvida, respondeu o padrinho, que chamou à atenção de todos para o silêncio dos presentes, para que o homem tomasse da palavra.

O sujeito, bem calmo, tira algodão dos ouvidos e telefone do bolso, guarda-os na mesa, sacode as mãos e respira fundo, buscava fôlego para transmitir algo aos seus convidados, tendo dito que “os instrumentos que me viram remover do corpo e do bolso, são a razão da nossa sentada. Família, fiquei quarenta anos me fazendo de surdo para manter firme a nossa relação, afinal amo minha mulher”, mas ela não me percebeu que vagueava até no meu quintal com seus parceiros, não se não bastasse, pude conservar as conversas que teve com seu “amante” na última quinta-feira.

De boca aberta ficaram dando palavra a sua esposa, esta só lagrimejava sem possível argumento, tendo se recordado do Provérbios 13:3 “O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína”.

Nunca subestime o silêncio de outro em uma relação, é preciso controlar a sua ira e torná-la como fraqueza que de boca fechada dificilmente ferimos o nosso próximo.

Lembre-se, a maioria das pessoas só aprendem as lições da vida depois que a mão dura do destino lhe toca no ombro

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo intitulado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 22 de Maio de 2025, na rubrica de opinião denominado OPINIÃO

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