Quando o jornalismo falha e a diplomacia se impõe – uma lição de Ramaphosa
Ontem, o Presidente Matamela Cyril Ramaphosa esteve na Casa Branca, em Washington DC, para reatar as relações bilaterais entre a África do Sul e os Estados Unidos. O encontro, que deveria ser um momento de reposicionamento diplomático, transformou-se num exercício de resistência contra uma narrativa perigosa e mal-intencionada. O Presidente Donald Trump, baseado em vídeos sensacionalistas e notícias falsas, acusou o governo sul-africano de promover um alegado “genocídio de brancos”, exigindo explicações a Ramaphosa em plena Sala Oval. Chegou mesmo a exibir vídeos com cânticos radicais e imagens de famílias afrikâners em fuga, numa tentativa clara de criar um ambiente de condenação pública e humilhação. Ramaphosa manteve-se calmo, sereno e preparado. Sem recorrer a insultos ou adjectivos inflamatórios, rebateu cada acusação com dados, factos e testemunhos. Trouxe consigo ministros de raça branca, sindicalistas e membros da sociedade civil como prova de que a África do Sul é uma democracia multirracial e inclusiva. O que Trump tentou apresentar como “prova de genocídio” foi desmontado com clareza e sem teatro. O que mais me surpreende é que, em Moçambique, o Jornal Notícias, jornal público e de referência nacional, tenha decidido reproduzir essa narrativa sem qualquer espírito crítico. Limitou-se a repetir os despachos da agência Lusa — uma fonte eurocêntrica e sem sensibilidade para os desafios africanos — sem questionar os interesses que estão por detrás da acusação. ![]() Nenhuma linha contextualizou a importância do encontro para a SADC, para a diplomacia africana, ou para os países que enfrentam desafios semelhantes de manipulação mediática internacional. Quando o jornalismo se torna mero reprodutor de versões externas, deixa de cumprir o seu papel patriótico. O que o Notícias publicou não serviu o interesse nacional nem regional. Criou mais confusão, ignorou a postura exemplar de Ramaphosa e prestou um desserviço aos seus leitores. Felizmente, Ramaphosa esteve à altura do momento. Mostrou o que significa liderança em tempos de pressão internacional. Demonstrou que é possível defender um país — e por extensão uma região inteira — com firmeza, inteligência e respeito. A lição é clara: quando os nossos líderes se levantam com dignidade, a imprensa não pode curvar-se sem reflexão. África precisa de diplomatas preparados — mas também de jornalistas conscientes. |
EGÍDIO VAZ
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