Anamalala, o grito de quem sobrou

Mais do que nome de partido, “Anamalala” é o desabafo colectivo de uma população cansada de esperar por vez, por voz e por justiça.  

Dizem que o nome é forte demais. “Incita à violência”, sussurram alguns críticos, receosos de que o povo entenda errado. Mas em Moçambique, onde a sobrevivência virou resistência diária, a violência raramente começa com o grito — começa com o silêncio.

O recém-anunciado partido ANAMALALA pode até parecer agressivo à primeira escuta, mas sua origem é menos sobre atacar e mais sobre expressar. Não nasceu num gabinete refrigerado, nem foi parido por assessores de imagem. Nasceu das entranhas de um povo cansado de ver a vida passar pela janela da oportunidade fechada.

Enquanto os partidos históricos evocam memórias de luta — a FRELIMO como símbolo de libertação, a RENAMO como resistência armada, o Partido Trabalhista como voz sindical — o ANAMALALA surge como o desabafo dos que nunca tiveram um microfone. Dos que sobrevivem à margem, entre as promessas nunca cumpridas e as eleições que se repetem como novela velha.

Anamalala é grito, sim. Mas é o grito de quem ficou de fora. É o eco do “Zé Ninguém”, do pé rapado, do moçambicano que sabe que diploma não garante emprego e que justiça é privilégio de poucos. É o símbolo de um povo que cansou de pedir com educação e agora exige com emoção.

Talvez incomode. Talvez assuste. Mas é preciso ouvir. Porque mais perigoso que um nome provocador é um povo inteiro invisível e em silêncio.

Sobre o autor: Rafael é cronista moçambicano, escreve sobre política, sociedade e os afetos invisíveis do cotidiano. Defende a curiosidade como forma de justiça e a sinceridade como estilo literário.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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