O pano, o bisturi e a amnésia cirúrgica

Numa manhã ensolarada em Moçambique, um cirurgião — daqueles que juraram por Hipócrates, mas parecem ter sido treinados pelo Mr. Bean — resolveu inovar no campo da medicina: “esqueceu” um pano cirúrgico dentro da barriga de um paciente. Sim, um pano. Não um bisturi, que é pequeno e cortante. Um pano. Grande, macio, e difícil de não notar, principalmente quando você está costurando alguém como quem embala um presente de Natal.

Agora, paira no ar a dúvida nacional: como se esquece um pano do tamanho de um lençol dentro de uma barriga? Seria o paciente devedor contumaz, e o cirurgião encontrou uma nova forma de cobrança? Uma espécie de penhora intra-abdominal? Ou seria o pano uma metáfora médica para “ajuste de contas”?

Talvez fosse bolada. Afinal, tempo é dinheiro, e fechar a barriga rápido pode ter sido a forma mais eficiente (e drástica) de encerrar o expediente antes da hora. Ou quem sabe, o doutor era recém-saído da faculdade, e ainda confundia cirurgia com origami. Ou pior: um cirurgião adúltero, distraído com mensagens da amante entre uma sutura e outra. Amor proibido e cirurgia não combinam, meu caro.

Ao ser questionado sobre o deslize, o profissional da saúde (ou do stand-up, ainda não sabemos ao certo) respondeu com algo próximo de: “Foi um erro humano”. Genial. Só faltou completar com um “podia acontecer com qualquer um”. Claro! Quem nunca guardou um pano dentro de alguém sem querer? É tipo esquecer a toalha na mochila depois da academia, só que com anestesia geral.

O mais interessante, porém, não é o erro em si — a medicina já viu de tudo. O cômico, o tragicômico e o absolutamente absurdo. O que chama atenção é a capacidade quase olímpica de justificar o injustificável. Esquecer um pano dentro de uma pessoa é como esquecer o volante fora do carro. Não dá para passar pano, literalmente. Nem com outro pano.

É como se o hospital, num surto colectivo de normalização do absurdo, dissesse: “Errar é humano, justificar o erro é humano em dobro”. Talvez estejam lançando uma nova especialização: Cirurgia com elementos-surpresa. Um dia é um pano, no outro é um controle remoto. Quem sabe em breve o paciente não sai com uma assinatura vitalícia da Netflix, direto do apêndice.

Rir é preciso. Viver com um pano no abdômen, nem tanto. Que fique a lição: na medicina, como na vida, quando se erra, o mínimo é assumir o erro com vergonha, não com roteiro de comédia.

Mas se um dia você sair de uma cirurgia e sentir que tem algo a mais em você… verifique. Vai que é um pano. Ou pior, uma fatura não paga.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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