A união estável entre a PGR e a PRM
Dizem por aí que o casamento mais sólido de Moçambique não é entre celebridades, nem entre empresários e partidos políticos. A união mais estável – sólida como diamante enterrado no solo de Montepuez – é aquela entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia da República de Moçambique (PRM). Um matrimónio tão inviolável que nem a NASA, com seus telescópios avançados, conseguiu rastrear o planeta onde ocorreu a lua de mel.
A cerimônia? Foi em Júpiter. Testemunhas oculares? Nenhuma, claro. Mas quem precisa de testemunhas quando o casamento é blindado por interesses comuns e promessas silenciosas? Juraram fidelidade mútua, proteção recíproca e sigilo absoluto sobre os arquivos que deveriam ser públicos. Um para todos e todos para um — desde que o “um” não seja o povo.
O que espanta é a harmonia da relação. Quando a PGR espirra, a PRM corre com lenço. Quando a PRM tropeça, a PGR aparece com a amnistia. Casos sérios, desses que fariam qualquer Estado de Direito estremecer, são arquivados com a leveza de um bilhete romântico: “Te guardo no fundo da gaveta, meu segredo eterno”. Já os casos baratos — aquele jovem com uma lata de spray, ou o activista com um cartaz improvisado — são perseguidos com todo o peso da lei, como se fossem responsáveis pela dívida pública ou pela insegurança em Cabo Delgado.
Há ajuizamento, sim, mas selectivo. E há medo, sobretudo entre os que ousam questionar a felicidade do casal. A cada vez que alguém tenta interromper o enlace, surge um processo, uma convocação, uma “visita de rotina”. Afinal, proteger esse casamento virou missão de Estado.
Enquanto isso, o povo assiste de camarote — ou melhor, da fila do hospital, da escola sem carteira, do bairro sem luz — ao romance blindado que desafia lógica, legalidade e vergonha.
Resta-nos apenas uma pergunta: se um dia esse casamento se desfizer, será que o divórcio será também arquivado?
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
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