Relógio Inteligente: A nova algema dourada
As orientações do candidato derrotado eram claras: “Este ano, não há Natal, nem ajuntamentos familiares” [algo que parece ter sido cumprido em muitos lares moçambicanos]. Mas, em momento algum – pelo menos que eu tenha ouvido – se proibiram as trocas de presentes entre familiares.
Por isso, não hesitei em oferecer e, claro, em receber. Afinal, mesmo sem a presença do Pai Natal, os presentes são uma tradição que se mantém firme [e, mesmo que tivessem proibido, eu teria oferecido na mesma, porque, na minha casa, mando eu, ora essa!].
Foi assim que fui presenteado com um relógio inteligente, um “smartwatch”. Não era daqueles modelos caros, mas um mais simples e funcional – chamemos-lhe utilitário.
À primeira vista, confesso, nem lhe dei muito valor. Até me perguntei se isso mudaria alguma coisa na minha vida. Mal sabia eu…
Fez-me lembrar os tempos em que começámos a usar telemóveis, lá pelos finais dos anos 90, quando muitos resistiam, dizendo que “essas coisas iam controlar a nossa vida”. E como controlam!…
Voltando ao meu novo brinquedo, encontrei neste pequeno dispositivo um parceiro indispensável, especialmente para quem, como eu, que já passou dos 60 anos de idade, tem [muito] peso a mais e lida com tensão arterial elevada, controlada à base de Almodiplinas e Bisoprololes.
O relógio tem-se tornado quase um assistente de saúde. Monitora os passos que dou ao longo do dia [já cheguei a percorrer, num só dia, mais de 8.000 passos – o equivalente a uns 7 quilómetros], mede a frequência cardíaca e até a pressão arterial, fornecendo dados essenciais para gerir melhor a minha saúde. E, claro, ainda serve para mostrar as horas.
Além disso, acompanha padrões de sono [uma funcionalidade que, para mim, é quase inútil] e até mede os níveis de oxigénio no sangue. Mais surpreendente: também permite receber notificações de SMS e até atender chamadas directamente do pulso. Mas essas funcionalidades, eu desactivei – afinal, ninguém precisa de tanto stress.
A verdade é que este relógio se integrou na minha rotina diária de uma forma que não esperava.
Incentiva-me a adoptar hábitos mais saudáveis e, com os lembretes constantes para me manter activo [sim, ele apita e manda-me dar uma volta], ajuda-me a melhorar o meu bem-estar geral.
Este presente inesperado de Natal transformou-se numa ferramenta poderosa, promovendo saúde e felicidade na terceira idade – pelo menos na minha. É um excelente exemplo de como a tecnologia, quando usada de forma consciente, pode ser uma grande aliada para um estilo de vida mais activo e saudável.
Não digo que seja só para os mais velhos. Acredito, até, que esses dispositivos foram criados a pensar nos mais jovens, mas nós, os “cotas”, estamos também a aproveitar.
E, ao menos isso, deixem-nos aproveitar!