Rescaldo do incidente

Rescaldo – Vários órgãos de comunicação social da África do Sul reportaram com destaque o incidente da morte de dois agentes da polícia guarda-fronteira de Moçambique por soldados sul-africanos no extremo norte da província sul-africana de KwaZulu-Natal no passado dia 16 do corrente mês de Junho.

Todos os comentários sublinharam que o incidente não vai mudar o rumo das relações de amizade e cooperação entre os dois países vizinhos.

O semanário dominical Sunday Independent reporta na sua mais recente edição (23Jun19) que o brigadeiro-general Mafi Mgobozi, porta-voz das Forças de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF), disse que o relatório preliminar de investigação do incidente vai ser tornado público esta semana logo que as duas partes ficarem satisfeitas que o mesmo reflecte os factos recolhidos no terreno.

Segundo o general, a equipa destacada a Moçambique para trabalhar com os moçambicanos regressou a África do Sul para apresentar o rescaldo do trabalho à chefia.

No entanto, o Mafi Mgobozi disse que as SANDF consideram que publicar, sozinhas, o relatório, poderia deixar a percepção de uma versão parcial do que aconteceu.

Para aprimorar o relatório foi enviada “outra delegação de alto nível a Moçambique” para trabalhar num relatório conjunto com a contraparte moçambicana.

O brigadeiro-general afastou em todas as entrevistas concedidas aos principais órgãos de comunicação social sul-africanos qualquer mudança ou crispação da amizade entre os povos e governos dos dois países como rescaldo do incidente, dizendo que “a África do Sul jamais se envolverá em guerra com Moçambique”.

O Sunday Inpdendent, único semanário que retomou o assunto neste Domingo, reporta extensivamente sobre o incidente destacando que todos necessitam de bons vizinhos.

O articulista Sihle Mavuso escreve que iNkosi (Rei/Chefe) Mabhudu Tembe, líder influente na tribo Tembe na região de uMkhanyakude, norte de KwaZulu-Natal junto da fronteira sul de Moçambique, apelou para calma, dizendo que como rescaldo do incidente ocorrido no Dia da Crainça Africana “não há necessidade para pânico, porque as relações de amizade entre os dois países são sólidas”.

O jornal apresenta foto de soldado sul-africano apertando mão em saudação a um agente da polícia de guarda-fronteira de Moçambique. Os dois estão separados por arame marcando a fronteira entre os seus países.

De acordo com o semanário, a associação dos transportadores semicolectivos de passageiros “cross-border” também reagiu afastando qualquer tipo de retaliação e apelando para o reforço da vigilância contra oportunistas que podem sequestrar o incidente para avançar com manifestações de xenofobia.

O jornal Sunday Independent descreveu as relações entre o partido Frelimo, em Moçambique, e o ANC, na África do Sul, recordando que guerrilheiros anti-apartheid, incluindo Jacob Zuma, foram acolhidos em Moçambique depois da independência e recebiam apoio político-militar contra o regime racista.

Falou sobre monumentos erguidos na Matola em memória de sul-africanos assassinados pelas forças do regime do apartheid e o de Mbuzini, na África do Sul, onde morreu o presidente Samora Moisés Machel, em Outubro de 1986.

O artigo recorda que em 2008 e 2015 as relações entre os dois países foram postas à prova pela violência de xenofobia na África do Sul durante a qual alguns moçambicanos foram assassinados e milhares de outros regressaram a correr ao seu país de origem.

O jornal também fala da criminalidade ao longo da fronteira entre os dois países.

A linha da fronteira de KwaZulu-Natal e usada por traficantes de viaturas da África do Sul para Moçambique.

Em algum momento sul-africanos exigiram a construção de muro de betão ao longo da fronteira para travar a passagem de carros roubados para o território moçambicano que depois são vendidos a preços relativamente baixos em algumas zonas do Sul de Moçambique, particularmente em Massinga, província de Inhambane, Chókwè e Chibuto, na província de Gaza.

Entretanto, o semanário realça que os dirigentes foram unânimes e firmes em condenar os males, defendendo as boas relações culturais, económicas, políticas e sociais que incluem casamentos entre cidadãos dos dois países dos quais destaca o caso de Nelson Rolilhalha Mandela e Graça Machel.

THANGANI WA TIYANI, correspondente na África do Sul

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