Restos mortais
Geralmente os restos mortais ficam no cemitério ou na cripta. Desta vez os restos mortais eram ambulatórios nos corredores do avião da nossa amada LAM. O atraso sem explicação e o desespero dos passageiros eram notórios.
O festival do embarque já estava aberto, a balada de verificação e confirmação dos cartões de embarque estava a animar. Era a véspera de uma viagem com fome. Também a missa da abertura das malas depois do scanner era animada pelos agentes da lei. Ou seja, os scanners não são confiáveis, devem abrir as malas e mostrar as cuecas com excremento.
Sentado ali ao lado da janela. Ouvia uns murmúrios no fundo de um casal reclamando de fome. “Se tivessem levado arroz seria bom”. Olhei para o meu umbigo e ele também respondeu, esse casal tem razão, você também precisa de arroz.
Não eram apenas palavras, aquilo era sonho sem realização. Ao chegar a hora de servir o lanche (quando eram 21h00), todo o mundo esperando receber aquele embrulho de papel como se recluso tratasse. De repente, ouvi a voz do atendente “Só fiquei com queijo” e virou canção.
Em todas as cadeiras que passava, cantava “só fiquei com queijo, só fiquei com queijo” e chegou um tempo em que o queijo virou favorito e todos queriam queijo. Molhamos o estômago com sumo quente e que perdeu o sabor original. Era sumo acompanhado pelo calor de 38 graus. Por cima, sentia o vento no lugar do ar condicionado. Estamos numa inovação inexplicável.
De imediato, eu disse: peço água. A minha garganta estava seca e colada na parede da outra. O atendente tão proactivo disse: “Havemos de servir”. Pausei-me na minha poltrona como quem espera por água. Água, água, água, água e, finalmente, chegou.
Chegou a água, aquilo era um urinar no copo, um pingo molhado no copo que carregava o nome da empresa. De repente, o casal disse: “teria valido a pena se tivéssemos comprado nossa própria água, isto já não dá mais”.
Não basta só a empresa ter dois ou três aviões, lá dentro enfrenta-se a crise de fome, falta de freezer, ausência de água e gargantas secas até ao destino. Não é fácil ser passageiro dessa empresa.
Primeiro vai enfrentar o atraso. Segundo o lanche é um pão seco num embrulho mórbido. Terceiro, refeições sem opção. “Só fiquei com queijo”. Quantas vezes esse queijo não é a vítima diária?
Quantas garrafas de água, embrulhos de lanche e garrafas de sumos não são devolvidos para casa por aqueles que atendem? Quantas fomes devem ser aguentadas pelos passageiros num voo de mais de duas horas depois de um atraso sem aviso?
Quantos estômagos devem ser educados forçosamente sem aviso prévio? Quantas vontades de beber água são reprimidas? Talvez a LAM deva recomendar aos passageiros a entrarem no voo com os seus lanches, pois o que dão não pode ser algo aceitável. Um pedaço de queijo dentro de um pão seco é uma viagem sem destino.
Eu, sinceramente, espero que haja melhoria e respeito aos passageiros. Ou a LAM que não faça mais voos, deve confiar a outra empresa para operar. A melhoria sempre se requer e organizações que não aceitam melhorar são condenadas à estagnação.
A LAM é um conjunto de restos mortais. Também não sei se os trabalhadores têm tido os seus salários a tempo ou regularmente. Ou têm salários, mas também as marmitas dos voos? Talvez no final de cada voo os atendentes discutem pela qualidade de embrulhos. Quem fica com o quê?
“Só fiquei com queijo” era o nome do voo do dia 9 de Março de 2024… “Só fiquei com queijo” foi a música cantada nos corredores da aeronave. “Dá o queijo era o refrão da música cantada pelo atendente”. Júnior Rafael do voo “Só fiquei com queijo”.
Até a próxima LAM!
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 11 de Março de 2024, na rubrica OPINIÃO.
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