Retoma das actividades

Retoma das actividades – A tomada de Awasse e outras posições militares importantes anteriormente ocupadas pelos insurgentes radicais em Cabo Delgado, esta semana, pelas tropas do Governo de Moçambique e do Ruanda, abrem caminho para a recuperação, a breve trecho, da estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia, permitindo a retomada do projecto em Afungi (Área1) na primeira metade de 2022.

As forças do Ruanda estão a ser empenhadas ofensivamente em operações de “limpeza”, com o apoio de meios aéreos de vigilância e com capacidade ofensiva, havendo já registo de baixas entre insurgentes naquela região.

A ocupação de Mocímboa da Praia vai retirar aos insurgentes a sua principal base de apoio logístico. A par das operações, é notado um esforço de propaganda, por parte das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e forças ruandesas, através dos media.
Desde o início da intervenção militar ruandesa em Moçambique não têm sido reportadas baixas entre as forças de Kigali, salvo a referência a um “ferido ligeiro” nos primeiros dias da sua actuação.

As forças do Botsuana e da África do Sul estão, entretanto, a reforçar os contingentes, respectivamente via postos de fronteira de Gondola e Ressano Garcia, com o transporte de veículos de combate e armamento sob escolta das FADM até Pemba, percorrendo por estrada aproximadamente 2.500 quilómetros.
O Botsuana, que assume o vice-comando da força regional da SADC, já mobilizou 300 militares, mas é expectável que o contingente venha a ser reforçado no curto prazo.

A África do Sul, que comanda a força regional (Redactor N° 6117, págs. 1 e 2), está ainda a mobilizar meios navais, com a recente chegada do SAS Makhanda (navio-patrulha) a Pemba, capital de Cabo Delgado. O objectivo é delimitar o acesso à costa desta província e, em particular, de Mocímboa da Praia.
O primeiro contingente da Brigada 43, baseada a Norte de Pretória, passou a fronteira (Lebombo/Ressano Garcia) durante o fim-de-semana, incluindo blindados Casspir – produzidos na África do Sul e operados pelo batalhão de infantaria mecanizada – veículos de apoio e ambulâncias.
Duas aeronaves Hercules C130 da força aérea da África do Sul têm realizado voos regulares nas últimas duas semanas, transportando homens (incluindo forças especiais), equipamentos e munições.

Um aparelho sul-africano Cessna Caravan deverá ser utilizado em operações de reconhecimento aéreo e utilizará uma base improvisada junto ao aeroporto internacional de Pemba.

O orçamento do contingente sul-africano, o maior presente em território moçambicano com até cerca de 1.500 militares, é de EUR 58 milhões, tendo uma duração prevista de três meses.

A relevância de Paul Kagamè
Alguns analistas dizem que o Presidente do Ruanda, Paul Kagamè, tornou-se no centro nevrálgico do conflito em Cabo Delgado.

Para estes, a entrega da solução do conflito ao Ruanda pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Jacinto Nyusi relegou para segundo plano o próprio governo, assim como a força conjunta regional da SADC, que só agora começa a posicionar-se no terreno.
Referem que, apesar da existência de acordos de cooperação bilaterais genéricos, o contingente ruandês, composto por aproximadamente 700 militares e 300 polícias, está a actuar sem enquadramento institucional, em nome da segurança da região, da projecção de influência e de contrapartidas que deverão ficar a cargo do governo francês, em coordenação com a petrolífera Total, que pretende retomar o projecto em Afungi (Área1) na primeira metade de 2022, através da re-mobilização da CCS, a joint-venture composta pela SAIPEM, McDermott e Chiyoda à qual foi atribuído o projecto (EPC) do complexo onshore de GNL em Afungi.
O papel central de Kigali no xadrez regional está a ser catapultado com assentimento de Moçambique, através de Nyusi, que acertou a presença do Ruanda através de contactos Kagamè e com Emmanuel Macron, chefe de Estado francês.

Os países da região membros da SADC têm vindo a reconhecer a posição do Ruanda, com a sucessão de visitas oficiais a Kigali. Já no início de Agosto a Presidente da República da Tanzânia, Samila Suluhu, que em Março, substituiu John Magufuli, na sequência do falecimento do ex-estadista, visitou oficialmente Kigali durante dois dias.
No segundo dia deste Agosto, também o ministro da Defesa do Zimbábue, Muchinguri Kashir, iniciou uma visita de dois dias a Kigali, reunindo com o seu homólogo e onde o assunto dominante foi a intervenção em Cabo Delgado.

Em finais de Julho foi o chefe de Estado Maior das Forças Armadas de Angola, General Egídio de Sousa Santos visitar a capital do Ruanda, coincidindo com a deslocação do inspector geral da Polícia do Ruanda, Dan Munyuza, ao Malaui.
Dados recentemente tornados públicos colocam Kigali no centro das operações de espionagem a diversos membros de governo e chefes de Estado africanos através do “spyware” de origem israelita (NSO Group) Pegasus, que terá incluído o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

A lista de números interceptados pelo regime ruandês rondava os 3.500, incluindo diversos números de opositores do regime de Kagamè a residir na África do Sul.

O governo sul-africano, que mantém relações tensas com o Ruanda, reagiu com indignação, mas Kigali mantém o desmentido de que tenha utilizado a tecnologia Pegasus, alegando falta de capacidade técnica.
A proximidade de Kigali com a França e EUA projectam Kagamè como um actor regional de importância crescente.

A presença e o avanço da força ruandesa em Moçambique confirmam o apoio das duas potências.

O embaixador dos EUA no Ruanda, Peter Hendrinck Vrooman, diplomata de carreira, acaba de ser designado para as mesmas funções em Moçambique.

O Ruanda é igualmente um dos países africanos onde a cooperação externa da CIA é mais activa. O serviço de inteligência ruandês é composto na sua direção por alguns oficiais que foram adidos de defesa em Washington. (Retoma das atividades)

Redactor

Este artigo intitulado “Retoma das atividades” foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 02 de Agosto de 2021.

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