Síndrome de imunodeficiência política
É triste e quase desgastante. Não gostaria de começar o texto com uma frase que envolve tristeza, mas há coisas que são inevitáveis, por assim dizer.
No país onde residimos, tudo deve ser decidido pelo partido no poder. A ida dos alunos bolsistas à diáspora para estudarem e desenvolverem o país deve ser decidida pelos políticos. Há estudantes que, antes de viajarem, ao menos nos anos passados, tinham de passar pela sede central ali na Matola por uma semana para beberem da política do partido “do poder”. A política de mente esterilizante.
Os municípios que não são geridos pelo partido “do poder” são excluídos, marginalizados e com tremendas dificuldades para contribuírem para o desenvolvimento deste país. Comecemos a narrar alguns factos:
Em Nampula, barraram a entrega de uma ponte alegando que não tinha qualidade e o secretário de Estado não foi lá para se juntar ao trabalho que estava sendo realizado pelo município. Esta é uma política de encefalopatia.
Na Beira, também uma ponte construída por empresários o Governo não quis receber procurando antes a origem dos fundos e isso causou estranheza. Na mesma Beira, o Conselho Municipal construiu seis salas de aula no ano de 2023, com a garantia de que este ano (2024) as salas estivessem operacionais. Entretanto, o sector da Educação recusa-se a usá-las, recorrendo
a pretextos totalmente expurgados e num contexto em que milhares de crianças no país carecem de uma cabana que possa ser chamada de sala de aula. Carecem de paus ao menos para se sentarem que possam chamá-los de cadeiras ou bancos.
Tem salas de aula debaixo das árvores com quadros amarrados sobre a árvore como uma capulana no local de rituais kupatlha ou makeya. Há muitas dificuldades no país e que carecem da reflexão dos moçambicanos.
As mesmas dificuldades foram passadas em Quelimane e outros municípios que os poderosos não são detentores do poder sobre o povo. Agora, o que se pretende em Moçambique? Qual é a agenda do país? Onde se pretende chegar? Aqui só trouxemos uns exemplos ínfimos dos milhares existentes no país todo.
Os partidos que não fazem parte do governo do dia não servem o mesmo povo? Não estaríamos a programar a miséria deste povo? Não estaríamos a engordar o ódio em detrimento do amor ao próximo? Não estaríamos a inflamar a vingança?
Se se diz que Moçambique é uno e indivisível, então porquê essas situações gritantes? Como entender num país miserável se recusar uma obra municipal? E por que não se descentraliza o poder? Por que não se entrega a gestão das escolas e dos hospitais no raio municipal ao município? Qual o medo que temos em descentralizar o poder? O Governo central é o único com competência para administrar todas as instituições do Estado no país?
Até quando ovacionaremos o partido e qualquerizaremos o Estado? Como será que lutaremos pelo desenvolvimento do país? Certo ou errado, a política que oferecemos a este povo já virou uma síndrome que causa síncope ao povo em via de morte iminente.
Certo ou errado, o Governo não está preocupado com o desenvolvimento do país e a melhoria da qualidade de vida deste povo. Agora dá para entender que a pobreza que temos é um projecto programado e que, embora não se tenha partilhado, os seus sinais falam mais alto. Como se diz, “para bons entendedores meia palavra basta”…
Portanto, estamos cercados por indivíduos que não se preocupam com a dor do próximo e é por isso que farão tudo por tudo para permanecerem no poder, pois o que fizeram não pode ser visto por outros se não o país vai arder.
A bem da nação, cada moçambicano é chamado à reflexão e cada um tem a sua cota parte na libertação deste país que aos poucos está se transformando numa verdadeira Sodoma e Gomorra. Em que país você sonha viver? É assim o país que sempre desejou?
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado intitulado “Síndrome de imunodeficiência política” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 06 de Fevereiro de 2024, na rubrica OPINIÃO.
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