Só ficou a teimosia da FRELIMO
A história política de Moçambique está em um ponto de inflexão. Nunca antes o clamor popular foi tão audível e o espírito de mudança tão palpável quanto agora.
No entanto, diante de um povo que ergue suas vozes e exige transformação, a FRELIMO, partido que governou por décadas, insiste em uma postura que desafia não apenas a legitimidade do processo democrático, mas também a própria essência de um Estado que se diz democrático e de direito.
Os sinais são inequívocos. Dos estudantes que ecoam o nome de Venâncio Mondlane nas graduações como símbolo de resistência, aos militares que começam a perceber que o papel de uma força armada não é oprimir, mas proteger o povo, os ventos de mudança sopram com força.
Motoristas enfrentam ruas para mostrar sua insatisfação, enquanto crianças, em sua inocência, reconhecem a esperança que a liderança digital de Mondlane representa. Por toda parte, o hino nacional é entoado com fervor, um lembrete poderoso da unidade e da moçambicanidade que transcendem a política partidária.
A recusa da FRELIMO em aceitar a realidade é mais do que uma afronta à democracia; é um acto de teimosia que coloca o partido em desacordo com a vontade soberana do povo.
As eleições de Outubro de 2024 já entraram para a história como um marco de questionamento profundo. Os cidadãos moçambicanos, ao expressarem sua indignação contra a manipulação eleitoral, demonstraram que o tempo de governar por imposição acabou.
É impossível ignorar a realidade: a FRELIMO perdeu mais do que votos, perdeu o respeito de grande parte da população que, cansada de abusos e promessas vazias, decidiu dizer “basta”, “anamalala”.
Mas por que a resistência em aceitar a derrota? Seria o medo de um futuro sem controle absoluto, a incapacidade de imaginar um Moçambique sem a sombra da FRELIMO ou, talvez, a cegueira de um poder que se acostumou a calar os gritos de seus cidadãos?
Qualquer que seja a razão, a consequência é clara: quanto mais a FRELIMO se agarra ao poder, mais ela se afasta da realidade e da legitimidade.
O momento exige coragem. Coragem para admitir os erros, para ouvir o povo e para abrir caminho a uma transição que represente, de facto, os desejos da maioria.
Persistir na teimosia só levará a mais revolta, mais instabilidade e mais isolamento político. A história está repleta de exemplos de regimes que se recusaram a enxergar o óbvio e terminaram como sombras do que um dia foram.
Reconhecer a força popular não é fraqueza, é dignidade. Aceitar a derrota não é o fim, é o início de uma nova era. Se a FRELIMO deseja ser lembrada como um partido que contribuiu para a construção de Moçambique e não como um obstáculo à sua evolução, o momento de agir é agora.
O povo já decidiu. As ruas estão cheias de vozes que exigem mudança, e o futuro já aponta para um Moçambique diferente, mais justo e mais democrático. Resta saber: a FRELIMO será parte dessa transformação ou ficará relegada às páginas amargas da história?