SOJORNAL: Uma verdadeira
SOJORNAL: Uma verdadeira – Foi tudo rápido. Decorria o ano de 2009. Depois de uma “sexta-feira louca”, eis que recebo uma chamada do meu pai, oficial da Polícia da República de Moçambique (PRM) logo nas primeiras horas de sábado. Não se tratava de um convite, mas sim uma “intimação”, com instruções para comparecer no Prédio 528 da Av. Filipe Samuel Magaia. Motivo: um dedo de conversa com o editor do Correio da manhã, Refinaldo Chilengue. Meu progenitor havia previamente pedido ao senhor Refinaldo para me aceitar e ensinar jornalismo, profissão que desde a infância apreciei e desejei.
Cheguei atrasado e ofegante para o encontro. Estava ataviado à rigor. Tratava-se da minha primeira experiência. Nunca antes passara por uma Redacção.
O exigente editor do Correio da manhã me esperava e rapidamente entregou-me um papel A4 e caneta para que esboçasse o meu CV. Logo percebi que a coisa era séria.
Gatafunhado o CV, seguiram-se alguns minutos de conversa, ficou acordado que seria o “novo aprendiz” da casa. As habituais conferências de imprensa semanais da PRM passaram para a minha responsabilidade.
Mas, antes de ir à rua, há uma obrigação a não falhar: ler todos os jornais nacionais e algumas publicações portuguesas disponíveis (e não têm sido poucas). Acompanhar outros veículos (rádios, televisões, blogs, entre outros) é um imperativo sacrossanto na SOJORNAL, se não quer arranjar sarilhos com o editor, que diariamente repete que “a leitura desenvolve a capacidade de escrita e interpretação do Homem”.
Os dias passavam e a minha ansiedade em produzir os meus artigos e vê-los publicados aumentava.
Semanas depois tratei de informar ao editor que já me sentia preparado para elaborar um artigo jornalístico digno de ter espaço num dos meios da SOJORNAL.
O primeiro teste resultou de um briefing no Comando da PRM, a nível da cidade de Maputo (às segundas-feiras). O então chefe da Redacção, Filimão Saveca, recomendou para anotar toda informação da fonte. “Em caso de dúvidas, não tenha medo de perguntar. Não existe uma pergunta estúpida”, sublinhou.
Anotei tudo, mas tudo mesmo. De volta à Redacção, partilhei toda informação que colhera na conferência de imprensa com Saveca. “Então jovem, o que é notícia nessa pilha toda”. Respondi que a notícia era o facto da polícia ter registado X casos criminais e detido Y bandidos. “Errado, passaste ao lado de uma grande história. É função da polícia prender bandidos e registar ocorrências criminais, logo não pode ser notícia porque não é novidade. Aqui (nas minhas notas) diz que há um agente da polícia alvejado num tiroteio (a notícia)”.
No dia seguinte, outros jornais da praça fizeram manchete com o caso do polícia alvejado num tiroteio. O editor ficou furioso.
Depois desse episódio, Refinaldo Chilengue ordenou que chegasse duas horas antes do horário de entrada [e ele, o editor, é de uma pontualidade olímpica: chega às 06 horas na Redacção]. Entrei num regime de curso intensivo de jornalismo teórico e prático. Primeira lição, me ensinou a definição de “editor”, na óptica da SOJORNAL: “É aquele que numa Redacção transforma excrementos em chocolates”.
Aquela fama de “editor durão” foi valiosa e tudo deu certo. Aprendi as melhores metodologias de investigação e outras ferramentas de jornalismo, das quais me orgulho hoje.
Me lembro do meu primeiro artigo publicado no Correio da manhã, um exclusivo sobre os desmobilizados de guerra…foi manchete.
Uma das grandes marcas do jornal, hoje Redactor, é a formação rigorosa dos seus colaboradores, tendo como enfoque principal a busca de matérias em regime de exclusividade. Notícias que não perdem actualidade e com ângulo de abordagem diferente.
O período em que passei pelo Correio da manhã (2009 a 2018), onde tive o privilégio de ter como mentores Refinaldo Chilengue, Filimão Saveca e Jaime Ubisse, foi o mais marcante da minha carreira. A SOJORNAL é a melhor escola de jornalismo do país.
São daquelas experiências que repetiria sem pestanejar. Que a SOJORNAL continue sendo essa grande escola do jornalismo! (SOJORNAL: Uma verdadeira escola de jornalismo)
EDSON ARANTE *
* depois de uma passagem quase efémera pelo Grupo SOICO, é hoje repórter e apresentador do programa Economia & Negócios do canal de televisão Miramar de Moçambique. Escreveu este artigo intitulado ” SOJORNAL: Uma verdadeira escola de jornalismo” por ocasião dos 24 anos do jornal Redactor e 14 da revista Prestígio, assinalados no dia 10 de Fevereiro de 2021