Solidariedade social

Foi no Verão, numa cerimónia muito esperada, que certo homem, bem posicionado e com filhos à altura, que, pelos vistos, se beneficiaram da herança dos seus progenitores: terras e casas, para além de outros bens que lhes faziam serem reconhecidos onde quer que fossem.

Aliás, eram uma referência naquela província. No bairro, eram os mais falados e apoiavam a comunidade em tudo que pudessem.

Eram tidos como pessoas do bem, porque as suas obras eram significantes e reconhecidas em quase todo o território.

Mas nem tudo ia bem na família, parecendo que não. Os reconhecidos da região foram-se esquecendo dos seus progenitores que foram convidados a uma grande festa dum amigo seu que, para além de serem compadres, faziam cinquenta anos de casados. Para o efeito, precisavam de um roupa e presente para oferecer aos seus próximos.

Não tendo sido satisfeita a sua necessidade, a mulher recorreu a capulanas para fazer o seu traje. Multiplicou algumas no seu corpo para melhor se apresentar. Tudo saiu em conformidade e do jeito que esta esperava, parecia a mais nova e bem trajada do momento, pelo facto de ter feito boas combinações. Mesmo sem a ajuda dos filhos, conseguiu revirar mantendo a sua postura com carácter aceitável.

Sem muitos arranjos, o pai dos bem-sucedidos repetiu o fato preto que usara no seu casamento, todo engravatado e engomado. Assim se fizerem as cerimónias com o seu convite na mão que puderam entrar na sala e deliciar do que lhes foi servido. Começa o ânimo, eram tocadas diversas músicas conhecidas por todos. O Homem, todo feliz, depois de tantos copos, mete-se em dança onde lhe é girado pela classe juvenil e recorda-se dos seus velhos tempos.

O dia estava diferente, começa o aquecimento que não dava para mais nada se não um copo de água fresca, mas o Homem pautou pela tomada de ar na parte de fora do salão conversando com os demais convidados, gente da sua geração.

No acto do diálogo parte destes tiravam e metiam lencinho dentro e fora do bolso com vista a limpar o suor para seu alívio.

A música não parava de tocar, a felicidade estava acima do controlo. O Homem tira o casaco e pendura na cadeira, tendo virado o espectáculo do dia, pois a sua camisa estava totalmente rasgada na parte traseira. O Homem não percebeu que os risos não tinham nada que ver com os seus passos de dança, mas, sim, com a forma apresentável, que fez com que a sua esposa se sentisse mal perante as comadres que estavam naquele local.

Vizinho, vizinho, ponha casaco, diziam os que estavam ao seu lado. Para ele daria no mesmo, afinal todos se haviam apercebido do triste cenário que marcava o momento, parecia mais um elemento de ornamentação do cerimonial, total espectáculo por debaixo da tenda, que a sua mulher acabara por ganhar o ritmo do seu cônjuge, tendo ido à pista de dança descalça.

Tudo indicava que era um pedido de socorro aos seus filhos, que, de uma ou de outra forma, o recado iria chegar neles, foi a estratégia usada para mostrar a falta de atenção dos seus herdeiros que nada fizeram para ganhar o título que ostentavam.

Viveu-se momento de felicidade, mas coberto de significado para quem pudesse perceber o sentido da ausência de solidariedade como sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.

O bom senso equipara-se a uma semente quando lançada à terra, temos de esperar para colher melhores frutas no solo da vida. Se for para semear que seja para produzir milhões de sorrisos e não tristeza ou falta de reconhecimento dos que os criaste”. (Provérbios 14:31) “O que oprime o pobre insulta aquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado a honra”.

Tudo carece de esforço no quotidiano e precisa-se de perceber que as mãos não só servem para saudar ou bater palmas, como também produzir para melhor sustento.

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 16 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.

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